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Presidente da Embratur diz que turismo pode triplicar faturamento no país

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Presidente da Embratur afirma que o turismo pode triplicar o faturamento do país

O custo Brasil e a baixa qualidade do ambiente de negócios do país são os principais entraves para o desenvolvimento do turismo, avalia o presidente da Embratur, Vinícius Lummertz. Para ele, os consumidores sofrem diante da falta de concorrência e do ideal de descapitalismo que impera.

“No capitalismo, a regra é aumentar a produção e, ao fazer isso, cair o preço ou custo marginal do produto. Mas no Brasil não é assim. Dá-se um jeito de se produzir menos, dentro de um sistema contido, que é tão caro para pagar que no final não ganha escala, não ganha força de produção e descapitaliza”, comenta.

Para ele, o país tem potencial para quase triplicar o faturamento do setor dos atuais US$ 7 bilhões para até R$ 19 bilhões com medidas de curto e médio prazos. Entre elas está a liberação de vistos eletrônicos para visitantes estrangeiros de países como Japão, Austrália e China. Além disso, Lummertz defende a transformação da Embratur, hoje uma autarquia, em uma agência.

Com orçamento de apenas R$ 17 milhões, a pasta quer voltar a ter pelo menos R$ 110 milhões para arcar com custos de promoção do país no exterior e manutenção de escritórios em diversos países. Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida no programa CB.Poder, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.

Tramita no Congresso um projeto de lei para transformar a Embratur em agência. Qual seria o impacto dessa mudança?

A proposta, se aprovada, dotará a Embratur de um poder de competição internacional. Existe uma corrida mundial pelo turismo. Há uma guerra de empregos, nesta era digital, nas áreas dos serviços voltados para o setor. O turismo é o terceiro item de exportação do planeta. Perde apenas para a indústria química e para a de combustíveis. Está na frente da automotiva e da de alimentos. Movimenta US$ 1,2 trilhão. O Brasil tem uma parte muito pequena, de apenas 0,6%, sendo o país com maior potencial turístico de todo o planeta, segundo o Fórum Econômico Mundial.

Também há no Congresso a discussão da liberação de jogos e cassinos no país. Esse tema é controverso. Qual é a opinião do senhor sobre isso?

É parte da visão atrasada de país. Parece que nós estamos vivendo em uma bolha. O Brasil é uma bolha. E isso leva ao nascimento de jabuticabas. Vamos falar de hotéis e cassinos. Nós vamos jogar nos Estados Unidos e somos bons jogadores. Nós gastamos muito com isso. O que precisa ter cuidado é com a questão da renda e com a ideia de que os cassinos devem estar em resorts. Essa é a nossa proposta. Em Las Vegas, o jogo já não é o principal negócio da cidade, e sim os congressos e shows que ocorrem nos hotéis. Existem shows montados que faturam US$ 200 milhões e ficam 10 anos no ar. A economia é ligada à cultura, às artes, aos espetáculos e aos esportes. Os cassinos acabaram sendo um meio de segurar uma magia.

Os cassinos ficariam restritos a poucos espaços?

Sim, na verdade estamos falando de dois ou três cassinos, porque é preciso experimentar. Existem no Brasil alguns seminários, palestras com especialistas de fora. A coisa está caminhando bem para uma lógica aceitável, porque não é só nessa área que nós vivemos numa bolha. Veja a área dos espaços naturais e as áreas de marina. Aqui se leva 12 anos para licenciar uma marina. Nos Estados Unidos leva-se três meses, com um processo com três páginas de papel.

Para o brasileiro também não é difícil viajar? Quer dizer, vai ter um feriado prolongado agora nesta semana, se uma pessoa quiser comprar uma passagem agora, vai pagar mais do que se fosse para o exterior. O senhor não acha que isso é um problema? O desincentivo ao turismo interno?

Veja bem, a questão é mais profunda. Vamos voltar para a questão do contexto: este é um país capitalista só quando interessa. Fala-se em liberdade de preços e essa liberdade de preços baixou o custo das passagens. As aéreas têm razão, mas, na falta de competição, isso ocorre.  Agora, nós estamos abrindo o capital das aéreas com essa ideia. E as empresas estão majoritariamente a favor até porque precisam capitalizar-se. Esse país não tem estrada boa, não tem trem. Temos aeroportos que não têm voos, temos 40, 50 aeroportos sem voos.

O problema é que falta competição?

Exato. Este é o país do descapitalismo. No capitalismo, a regra é aumentar a produção e, ao fazer isso, cair o preço ou custo marginal do produto. Mas, no Brasil, não é assim. Dá-se um jeito de produzir menos, dentro de um sistema contido, que é tão caro para pagar que no final não ganha escala, não ganha força de produção e descapitaliza.

Isso são problemas macroeconômicos estruturais. Há uma solução rápida para isso?

A solução rápida para algo complexo, normalmente, é falsa. Existem soluções para curto e médio prazos muito boas. Essas transformações da Embratur promovendo mais lá fora, nós vamos sair de US$ 7 bilhões para US$ 11 bilhões. Não chegamos aos US$ 19 bilhões e para isso precisamos de outras coisas. Os vistos eletrônicos vão ajudar, a abertura das aéreas vai ajudar. Mas, no final, nós vamos precisar de um ambiente de negócios que permita compensar a falta de poupança interna pela poupança externa, porque não há poupança.

Artur Hugen, com Ascom/Embratur