A Comissão Senado do Futuro (CSF) promoveu no final da última semana uma audiência pública para debater a crise hídrica e o Fórum Mundial da Água, que será realizado em Brasília entre os dias 18 e 23 deste mês. Os debatedores apresentaram sugestões para o uso sustentável da água e destacaram a importância do fórum para as demandas relacionadas ao meio ambiente e aos recursos hídricos.
A audiência foi sugerida e coordenada pelo senador Hélio José (Pros-DF), presidente da CSF. Ele disse que o Distrito Federal tem enfrentado nos últimos anos as consequências de uma crise hídrica sem precedentes. Segundo o senador, as autoridades do DF demoraram muito em reconhecer “o crime de não cuidar das nascentes”. O senador registrou que, depois de seis anos de consumo crescente, o racionamento de água levou o cidadão a rever suas rotinas e o consumo caiu no ano passado.
— Todos economizaram e a sociedade respondeu ao desafio. Nós precisamos, porém, ter um olhar mais atencioso com nossos mananciais — afirmou o senador.
De acordo com o coordenador da área de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), Marcos José Melo Neves, o sistema socioambiental é um sistema integrado e as soluções também devem ser integradas. Assim, uma decisão política sobre questões do meio ambiente pode ajudar na conservação da água. Ele lembrou, no entanto, que o Brasil tem dimensão continental e cada região pode exigir um tipo de solução.
Especialista em recursos hídricos da Diretoria de Regulação da ANA, Patrick Thomas lembrou que as crises hídricas estão se repetindo no Brasil nos últimos anos. Ele citou como exemplo a crise na região Nordeste ao longo dos últimos seis anos, a crise de São Paulo, entre 2014 e 2015, a crise atual de Brasília.
Segundo Thomas, a diminuição da vazão e o racionamento são medidas recorrentes em caso de crise de hídrica e amplamente usadas pelas concessionárias. Na bacia do Rio São Francisco, a adaptação das bombas de captação, colocadas de forma mais profunda, foi o recurso usado para garantir o abastecimento das cidades ribeirinhas. Ele ainda defendeu regras claras e predeterminadas para o caso de racionamento e a construção de mais reservatórios — como forma de garantir o abastecimento da população.
A assessora de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), Raquel Carvalho Brostel, pediu mais investimentos no setor. Já a engenheira da Empresa de Saneamento de Goiás (Saneago) Livia Maria Dias disse que a discussão da água não tem a ver apenas com a tecnologia ou com os recursos financeiros, mas toca também nos costumes do cidadão no seu dia a dia. Ela ainda pediu mais fiscalização por parte do poder público e mais atenção com as áreas de nascente.
— As cidades estão crescendo e chegando às áreas de captação. Daí a importância dos planos diretores. Infelizmente, o poder econômico está prevalecendo sobre as questões ambientais — lamentou Livia.
Para o diretor de Comunicação da Associação dos Moradores e Amigos de Águas Claras, Marcelo de Carvalho Marques, a preservação do meio ambiente é essencial para a garantia de água de qualidade para o consumo. Ele disse que muitos prédios em Águas Claras, região administrativa de Brasília, já têm equipamentos de reuso de água e sugeriu mais investimentos em saneamento básico e em sistemas alternativos de geração de energia.
— É necessário que busquemos outras soluções. Há algumas regiões do Brasil que não têm acesso a água potável. Como pode isso em um país tão rico em água? Sem água não há vida — alertou.
O vice-presidente executivo da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Ralph Lima, afirmou que o Fórum Mundial da Água é um evento importante e cercado de oportunidades para o Brasil e para a América do Sul. Ele disse que o Brasil vem “mudando para pior” na relação com o uso sustentável da água. Segundo Ralph Lima, a expectativa é que 40 mil pessoas visitem o fórum. Já são 160 países confirmados e mais de mil jornalistas credenciados para as cerca de 200 sessões programadas ao longo do evento.
— Eu não tenho dúvidas em dizer que será o evento mais importante do país neste ano, além das eleições em outubro. O fórum tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância do tema — afirmou.
O diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) e coordenador temático do Fórum Mundial da Água, Jorge Werneck, lembrou que a escassez de recursos hídricos não se limita a Brasília, mas é uma realidade mundial. Ele elencou medidas que vêm sendo tomadas pela Adasa como proteção aos recursos hídricos, que vão desde um fortalecimento da fiscalização até campanhas de conscientização nas escolas. Para o diretor da Adasa, o fórum é uma oportunidade de unir entidades do governo, da sociedade civil e da iniciativa privada em favor de uma maior conscientização a respeito da importância da água.
— É o maior evento sobre água do mundo. O fórum busca envolver a sociedade em uma mobilização pela água — declarou Werneck.
O Fórum Mundial da Água é um evento organizado pelo Conselho Mundial da Água (WWC, sigla em inglês para World Water Council) desde 1996. O oitavo encontro mundial vai ocorrer em Brasília, entre os dias 18 e 23 de março. Será a primeira vez que um país do hemisfério sul recebe o evento. A organização do fórum também conta com a participação da Abdib, do governo federal, por meio ANA, e do governo do Distrito Federal, representado pela Adasa. O Senado terá participação ativa no evento, por meio de uma subcomissão especial, criada no âmbito da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e presidida pelo senador Jorge Viana (PT-AC).
19 de Novembro, 2024 às 23:56