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Paraná competitivo e a concorrência desleal no setor de bebidas

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Está marcada para dia 20 de março, às 9h, a Audiência Pública “Paraná Competitivo para Quem?”, convocada pelo Deputado Estadual Requião Filho, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor
  • Está marcada para dia 20 de março, às 9h, a Audiência Pública Paraná Competitivo para Quem?”, convocada pelo Deputado Estadual Requião Filho, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, em que o governo do estado do Paraná vai explicar a concessão de regalias dadas à Ambev por meio do Programa Paraná Competitivo.
  • No debate participam a Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva) e a Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras). As entidades representam as pequenas empresas do setor, prejudicadas pela política tributária e concorrência desleal.
  • O acordo entre Ambev e o governador Beto Richa (PSDB), assinado em 2012, foi mantido em segredo até duas semanas atrás. Na época, Richa ofereceu mais de R$ 105 milhões ao ano em incentivos fiscais para a multinacional. Os benefícios valem até 2020 e podem ultrapassar R$ 1 bilhão até o fim do contrato.
  • Não bastasse isso, em 2016 o mesmo governo retirou os incentivos das micro e pequenas empresas de bebida alegando a necessidade de economia de R$ 12 milhões ao ano. O valor é quase nove vezes menor do que é recebido pela gigante mundial do setor.
  • “O acordo com a Ambev criou uma concorrência desleal, e mostra o poder público trabalhando exclusivamente para as grandes corporações”, protesta Fernando Rodrigues de Bairros, presidente da Afrebras, que reúne 106 fabricantes de bebidas de menor porte em todo o país – 16 delas instaladas no Paraná. “O ICMS é o imposto de mais impacto. Com os benefícios do governo, a alíquota da Ambev fica em 3%. A do pequeno fabricante é de 12%”, completa Bairros.
  • Entenda o caso
  • Em 2012
  • o governo do Paraná concedeu à Ambev, até 2020, incentivos fiscais que podem ultrapassar R$ 1 bilhão, em regime de tributação exclusivo para a multinacional, chamado Paraná Competitivo, como contrapartida para implantar uma fábrica em Ponta Grossa.
  • Obs.: acordo não foi transparente e só foi revelado recentemente. Há suspeitas de irregularidades sobre o acordo entre o governo estadual do Paraná e a Ambev. Não há decisão do Confaz autorizando o acordo.
  • A única peça pública sobre o acordo do governo com a Ambev era o Regime Especial de Tributação 4777/2012, publicado no Diário Oficial da Indústria, Comércio e Serviços de 7 de dezembro de 2012 – um dos expedientes obrigatórios para garantir a validade legal da medida, mas lá não constam todos os itens do acordo, incluindo a entrega do terreno ao estado.
  • Especialistas em direito tributário apontam que o acordo desrespeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal, ao não incluir nas leis orçamentárias posteriores a 2012 estudos que avaliassem qual o impacto que a renúncia teria nas contas do Estado.
  • Além de reduzir o ICMS cobrado no Paraná sobre os produtos da Ambev e lhe conceder créditos tributários, o governo ofereceu facilidades à multinacional para ajudá-la a erguer e operar sua nova planta em Ponta Grossa. Ficou suspensa a cobrança do imposto estadual sobre a importação de máquinas e equipamentos para a linha de produção e de matérias-primas.
  • Em 2013
  • O governador Beto Richa assinou um Decreto reduzindo a incidência da alíquota do ICMS de 29% para 12% para as bebidas alcoólicas e de 18% para 12% para refrigerantes. A medida foi para estimular a produção, gerar competitividade e aumentar empregos e renda no Paraná.
  • Em 2015
  • Expirado em dezembro de 2015, o período da concessão estabelecida pelos Decretos 8616/13, 8315/13 e 8289/13, a alíquota da tributação foi majorada para 18% no caso dos refrigerantes e 29% para as bebidas alcoólicas.
  • As empresas regionais, de pequeno e médio porte têm dificuldade de acesso a fomentos, como o Paraná Competitivo, porque o benefício está relacionado à implantação e/ou expansão da empresa, o que limita os pequenos, que não possuem a mesma condição financeira das grandes empresas, que têm incentivos até 2022, não podendo competir em igualdade.
  • Em 2016,
  • Foi criada a Frente Parlamentar da Indústria Paranaense de Bebidas, presidida pelo deputado estadual Guto Silva (PSD), solicitando o benefício por crédito presumido, retornando o ICMS aos 12%. A proposta foi aprovada na Assembleia, mas vetada pelo Governador Beto Richa, com o argumento de que o benefício fiscal dado aos pequenos fabricantes de bebidas, no valor de 12 milhões ao ano, causaria prejuízos aos cofres públicos. Alegou ainda que o benefício se tratava de renúncia fiscal, exigindo cautela estabelecida pela Lei de Responsabilidade Fiscal e autorização do benefício pelo Confaz.
  • Cabe destacar que o Confaz também não chancelou as vantagens dadas à Ambev em relação ao acordo estabelecido com o Governo do Paraná.
  • No ano de 2016, o Paraná registrou 16 fábricas regionais de refrigerantes. Nove fábricas a menos que em 2006.
  • A fábrica da Ambev
  • naugurada em maio de 2016, em Ponta Grossa, a nova fábrica produz cervejas e refrigerantes e custou R$ 848 milhões. Ao ser inaugurada, empregava 430 pessoas, segundo o governo do Paraná. Com a abertura da planta de Ponta Grossa, foram fechadas outras duas fábricas da empresa no Paraná.
  • As fábricas da Ambev em Curitiba e Almirante Tamandaré chegaram a gerar, respectivamente, 737 e 268 empregos diretos. Ou seja, a concessão do incentivo à Ambev resultou em diminuição de postos de trabalho.
  • Em 2017
  • O Tribunal de Justiça do Paraná acolheu o pedido de suspensão dos efeitos da Lei que favoreceria os pequenos fabricantes. Na mesma época, já estava em vigor o Regime Especial de Tributação para a Ambev.
  • Não se tem notícia que o Estado tenha entrado com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a concessão desse benefício à Ambev, mesmo com a ausência de aprovação do Confaz e com o não cumprimento das exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal.
  • Segredos de Estado
  • Para manter seus benefícios fiscais junto ao governo do Paraná, a Ambev deveria entregar ao estado um terreno de sua propriedade, localizado na região central de Curitiba, no valor de 104 milhões, valor muito acima do mercado.
  • No terreno em questão está em funcionamento o tradicional Bar Brahma, com contrato de parceria com a Ambev até o ano de 2027. O proprietário do bar já recebeu ordem judicial de despejo e intimação para fechamento. 
  • O caso detonou a revelação de condições constantes do contrato firmado pela Ambev em 2012 com o governo estadual para aproveitar os benefícios fiscais do programa Paraná Competitivo.
  • Esse contrato nunca teve seu conteúdo integral conhecido. O baú dos segredos foi aberto por determinação da Justiça, onde se descobriu que o Bar teria de ser desocupado em julho de 2017, antes do final de seu contrato com a Ambev, que vai até 2027.
  • Um detalhe que também deixou de ser segredo: o governo do estado aceitou receber o terreno pelo valor de R$ 104 milhões em 2012. Em 2013, a Igreja Universal comprou por menos da metade a área ocupada pela fábrica do Matte Leão, vizinho ao terreno da Ambev, onde está o Bar Brahma. A diferença de preço indica superfaturamento.
  • Artur Hugen, com Magda Pontes/AI/Foto: Pedro Oliveira/Alep
  • Serviço:
  • Audiência Pública “Paraná Competitivo para quem?”
  • Data e Horário: Dia 20/03/2018 às 9h 
  • Local: Assembleia Legislativa do Paraná – Auditório Legislativo – Sala da CCJ- 3º Andar
  • Endereço: Praça Nossa Senhora de Salette/sn/ - Curitiba