Artigo Por Gleisi Hoffmann
A caravana Lula Pelo Brasil concluiu vitoriosamente sua etapa pelos estados do Sul do país, apesar dos ataques e agressões que sofremos ao longo da jornada. A violência dos fascistas e o ódio da direita não conseguiram deter nossa caravana nem vão parar a marcha da história.
Mas foi necessário um atentado a tiros, em uma rodovia do Paraná, para despertar a atenção da grande mídia, em especial Rede Globo, para os fatos e levantar o repúdio ao uso da violência como arma política. Antes dos tiros de terça-feira (27), a caravana já havia sido alvo de bloqueios nas estradas e de ataques com ovos, pedras e barras de ferro.
No Rio Grande do Sul, milícias a mando da direita investiram com barras de ferro, soco-inglês e até chicotes contra o público que queria ver Lula falar nas praças. Em Chapecó (SC), um policiamento leniente permitiu que as milícias bloqueassem a porta do hotel onde ele se hospedava. Foi o povo que garantiu a segurança para o deslocamento do ex-presidente.
Lula tem o direito de percorrer este país que governou melhor do qualquer presidente antes dele. É simplesmente cínico dizer que o Sul seria um território hostil à caravana, como se escreveu em alguns editoriais e artigos na imprensa. Lula também é líder nas pesquisas presidenciais nos estados do Sul, como de resto em todo o Brasil.
O apoio a Lula ficou claramente demonstrado nas grandes manifestações que receberam o presidente em cada cidade que ele entrou. Nas visitas que fez às universidades e campi universitários que criou e implantou. Nos assentamentos da reforma agrária, nas propriedades da agricultura familiar que visitou.
Os atos públicos de São Leopoldo, Florianópolis e Curitiba foram expressivos em público e na representatividade social, mostrando a força de Lula, sua história e a causa que representa. A Caravana cumpriu seu objetivo e andou por onde tinha de andar!
Mas o que ocorreu no Sul não pode ficar impune, sem providencias por parte das autoridades. Diferentemente dos outros 12 estados percorridos pela caravana, foi a mobilização de capangas e milicianos, a serviço dos mesmos latifundiários que mandam matar camponeses, posseiros, sem-terra, sindicalistas, padres e advogados que agiu contra Lula, contra a democracia, contra a Constituição. Isso teve a complacência e a omissão de alguns comandantes de polícia infectados pelo vírus do bolsonarismo.
O que o país assistiu nessa jornada de dez dias não foram manifestações políticas, aquelas garantidas pela constituição democrática de 1988. Foram ataques organizados contra o direito de ir e vir de um ex-presidente da República e da ex-presidenta Dilma Rousseff, que o acompanhava. O que se viu foi a tentativa de interditar, pelo uso da força, o direito de reunião e de manifestação da mais expressiva corrente política do Brasil.
Os tiros contra a caravana não atingiram apenas o PT, atingiram a democracia. Quem apertou o gatilho foi a cultura do ódio e da intolerância que vem sendo disseminada no país com a complacência e até mesmo a cumplicidade dos grandes meios de comunicação. A mesma cultura de ódio e intolerância que vitimou Marielle e Anderson, crime que permanece impune.
A Secretaria de Segurança Pública e o governo do Paraná têm o dever de investigar com rigor o atentado do dia 27 e levar seus autores à Justiça. Mas desde o primeiro momento o que se vê são informações mentirosas e a manipulação política do caso. O Brasil e a comunidade internacional, que acompanha atentamente os fatos, exigem uma investigação séria e isenta, para que não se repitam atentados à democracia em nosso país.
Gleisi Hoffmann é senadora (PT-PR) e presidenta nacional do PT(foto: Waldemir Barreto/AS)
19 de Novembro, 2024 às 23:56