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Participantes de audiência pública criticam possível fusão da Embraer com a Boeing

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Venda da Embraer, segundo sindicalista, pode gerar riscos para empregos dos funcionários da empresa e também para a segurança nacional. Ele calculou em cerca de 10 anos o prazo para um possível fechamento da empresa, se a negociação for concluída

Em audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) na tarde desta segunda-feira (2), sindicalistas se manifestaram contra uma possível fusão entre a Embraer e a Boeing. No final do ano passado, a imprensa noticiou uma negociação entre a empresa brasileira e a multinacional aérea americana para criar uma nova empresa focada na aviação comercial.

Para o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), Herbert Claros, o tema não está sendo tratado pelo governo com a devida atenção. Ele pediu que o governo atue em favor do Brasil e exerça seu poder de veto diante da negociação. Claros lembrou que a empresa não será privatizada, “porque esse processo já ocorreu em 1994”, com o governo apenas mantendo o controle acionário.

Investimento público

A venda da Embraer, segundo o sindicalista, pode gerar riscos para os empregos dos funcionários da empresa e também para a segurança nacional. Ele disse calcular em cerca de 10 anos o prazo para um possível fechamento da empresa, caso a negociação seja concluída. Herbert Claros apontou que o sucesso da Embraer permanece “por conta do dinheiro público” e acrescentou que a empresa precisa ser “reestatizada”. Segundo Claros, por meio de financiamentos do BNDES, medidas de isenção de folha de pagamento e outros incentivos, o governo brasileiro contribuiu com cerca de US$ 24 bilhões com a Embraer nos últimos oito anos.

— Não faz sentido querer vender por US$ 6 bilhões. Temos todo os motivos para dizer que essa empresa tem que ser brasileira — afirmou.

Fechamento

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Botucatu (SP), Fabiano Roque, disse que os funcionários da Embraer não têm informações sobre a negociação. Para o diretor, tanto os funcionários como a sociedade precisam saber mais sobre a possível compra da 
Embraer. E destacou que a decisão pode afetar os cerca de 18 mil funcionários, que temem pelo fechamento da empresa, caso a Boeing efetive a compra.

Roque deu como exemplo sua própria trajetória dentro do setor de mecânica aérea. Ele relatou que foi funcionário de uma empresa chamada Neiva, comprada pela Embraer. Hoje, “ninguém ouve mais falar nessa empresa”. Segundo o diretor, se essa situação ocorreu com a Embraer comprando a Neiva, a tendência é se repetir com a Boeing comprando a Embraer.

— Os empregados estão inseguros porque não sabem nada sobre essa negociação. Para eles decidirem, a longo prazo, levar nossa tecnologia para os Estados Unidos e fechar as portas daqui será muito fácil. Não vemos futuro nenhum nessa compra — declarou o diretor.

Sem representantes

A audiência foi sugerida e dirigida pelo senador Paulo Paim (PT-RS). Ele destacou que a CDH também enviou convites para os ministérios da Defesa, da Casa Civil e da Ciência e Tecnologia. Os ministérios, porém, não enviaram representantes para a audiência. A mesma situação ocorreu com a Embraer, que informou que não teria condições de enviar representante para o debate.

Paim sugeriu que os sindicatos façam um documento, com suas posições sobre o negócio entre a Boeing e a Embraer.

— Eles não vieram ouvir, mas vão ter que ler — disse Paim, acrescentando que a CDH enviará o documento para a Embraer e para o governo.

'Golden share'

A Embraer é um conglomerado empresarial brasileiro que atua no setor aéreo, com foco na produção de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares e peças aeroespaciais.

Criada em 1969 pelo governo brasileiro, a empresa enfrentou dificuldades de gestão a partir da década de 1980 e foi privatizada em 1994. Mas o governo ficou com uma ação de classe especial chamada “golden share”, com direito a veto. Assim, qualquer decisão estratégica, como troca de controle acionário e criação ou alteração de projetos militares, precisa, na prática, da aprovação do governo.

Artur Hugen, com Agência Senado/Foto: Embraer