Depois da entrevista, Álvaro Dias respondeu mais algumas perguntas:
Qual a diferença da eleição de 2018 em relação às anteriores?
“A descrença é a marca. A superação disso é o primeiro grande desafio. Essa será a eleição mais importante desde a redemocratização. Em que pese a insatisfação coletiva, haverá interesse e participação. Imagino que a competição vai estimular uma participação mais direta do eleitor brasileiro no processo e essa eleição será a mais parecida com a de 89. As estruturas perderão para o conceito, para a imagem. O eleitor está focado em experiência administrativa e passado limpo. O eleitor está focado em experiência administrativa e passado limpo.”
Estatização da Petrobras
“Uma empresa estatal tem que ter função social. A política de preço adequado é aquela que leva em conta os custos de produção doméstica. Estamos dependentes de preços internacionais. Podemos estabelecer política condizente com o interesse do país.”
Qual seria a proposta sobre o porte de armas no Brasil?
“Como democrata, devo respeitar a opinião pública que é soberana. Tivemos plebiscito, 63,9% da população escolheu que devemos vender armas no país. O brasileiro quer porte de armas e temos que possibilitar isso. Mas não elimina a responsabilidade do estado de oferecer segurança à população. Porte de arma não e política de segurança. É um direito do cidadão, de legítima defesa.”
Reforma tributária
“Precisa de uma simplificação do modelo tributário, da progressividade do sistema, focando menos no consumo e mais na receita para que todos paguem. Quem pode mais, paga mais. Quem pode menos, paga menos. Mas todos pagarão. Com isso, com a redução da carga tributária no preço de produtos que consumimos, pois será menor no preço final dos produtos”
Qual a diferença da sua campanha para os outros candidatos?
“Queremos a refundação da República, o rompimento com o sistema corrupto e incompetente e a elaboração de leis que sejam respeitadas”.
Leia na íntegra a entrevista do senador Álvaro Dias aos jornalistas Hamilton Ferrari e Ingrid Soares, durante debate promovido pelo Jornal Correio Braziliense
O senador Álvaro Dias (Podemos) defendeu, durante a sabatina promovida pelo Correio Braziliense com os pré-candidatos à Presidência nesta quarta-feira (6/6), que é preciso uma "refundação da República". De acordo com ele, o país nasceu com um "gravíssimo defeito de origem", porque, historicamente, "uma minoria governa o país e explora o esforço coletivo”.
Durante o discurso no debate, Dias reforçou reiteradas vezes que as leis são elaboradas para serem descumpridas ou serem interpretadas "ao sabor da conveniência". “Não só poderemos olhar para nós mesmos, nossas crenças, nossas instituições e pensarmos numa grande nação se refundarmos a República. Esse é o objetivo central da nossa candidatura”, disse.
Por isso, o senador defendeu um pacto social para renovar a política e a governança no país. De acordo com ele, os pedidos extremistas de pessoas para intervenção militar no país retrata a angústia e desespero dos eleitores. “Hoje nós vivemos uma tragédia política”, afirmou. “O Brasil vive um caos administrativo em que 52 milhões de pessoas estão abaixo da linha da pobreza, de uma nação fantasticamente rica”, disse.
Álvaro Dias ressaltou, porém, que extremismos não leva o país a “nada”, porque afunda ainda mais a nação. “Não se constrói uma nação com extremismos. É preciso um pacto nacional daqueles que pensam no futuro do Brasil. O Brasil real na busca do seu futuro”, defendeu.
Segundo ele, as Eleições de 2018 serão a mais importante desde a redemocratização do país. O senador reforçou que é uma oportunidade para as “pessoas lúcidas” exercer o protagonismo. “Essa participação da sociedade nesse movimento pode evitar essa tragédia que existe hoje. Há um caos administrativo, uma lamaçal de corrupção”, disse. “Por isso, a Operação Lava Jato é essencial para reabilitar as esperanças na política e na democracia. Se a escolha for infeliz (nas Eleições), nós estaríamos desenhando um futuro de angústia para o país”, completou.
Educação
O senador defendeu que é preciso aumentar o investimento inteligente na educação, focando nos ensinos iniciais, como infantil e fundamental. Para o ensino superior, ele declarou que as universidades deveria ter uma “cota social” para os originários das escolas públicas e ter uma “prerrogativa” em função da declaração do imposto de renda.
Álvaro lembrou que foi relator do Plano Nacional de Educação e apontou que, se esse plano estivesse sendo respeitado, o Brasil teria um outro cenário na educação. “A letra é morta, assim como tantas outras leis. Elaboramos leis para serem ignoradas”, criticou.
No plano, se coloca 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação. “Hoje está próximo de 6%”, disse. Dias defendeu que é preciso valorizar mais os professores, aumentando a remuneração, equivalendo às outras profissionais, como engenheiro e médico. “Não se trata de federalizar a educação, mas rediscutir o orçamento”, disse.
“A prioridade número um é o ensino infantil. Jamais o ser humano vai alcançar suas formalidades se não houver um investimento, que, inclusive, é o de maior retorno. Não há nenhum no mundo com o retorno tão expressivo. Um dólar tem o retorno de seis ou sete dólares no futuro. Isso é com base em pesquisas” ressaltou Álvaro Dias.
Perguntado sobre ciência e tecnologia do país, ele disse que é preciso rever as prioridades atuais. “Os países que se desenvolveram foram aqueles que investiram em ciência e tecnologia”, disse. O senador ressaltou que enquanto os países evoluídos investem 4% do PIB no setor, o Brasil beira 1%. “Obviamente que, com a redução dos valores nos últimos anos, nós estamos reduzindo talentos. Pesquisadores estão indo embora para exercitar o próprio talento”, destacou.
O senador também comparou o Brasil com a Coréia do Sul: “há 60 anos, a renda per capita do país era 15% da renda americana. Na época, a Coréia do Sul tinha um número ainda menor. Hoje, o Brasil tem 25% da renda dos Estados Unidos, e a Coréia do Sul tem 70%. Isso porque investiu em ciência e tecnologia”, afirmou.
Estado menor
Álvaro Dias também defendeu que é preciso reduzir o tamanho do Estado brasileiro, cortando o número de senadores, deputados, secretarias e ministérios. Ele também afirmou que é preciso diminuir o número de empresas estatais, que atualmente são 146.
Segundo ele, a proposta para refundação da República começou em 1999 para mudar o sistema político e de governança atual. Ele defendeu que o modelo atual distribui corrupção e incompetência, importunando a população. “Proponho uma redução de ministério, de estatais, de secretarias. Isso também no Legislativo, para uma Legislativo mais enxuto, econômico e qualificado”, disse.
Ele quer diminuir o número de senadores em %u2153, passando a ser dois representantes de cada estado, em vez de três. Além disso, visa cortar em 20% a quantidade de deputados. “Isso é imprescindível, mas não com esse Congresso, ou com o próximo, e, sim, com a sociedade, esse povo essa consciência”, afirmou.
Álvaro Dias declarou que é o Legislativo terá que aceitar os anseios da sociedade, que pede por uma diminuição do Estado. “Ou nós mudamos ou seremos atropelados”, disse. “É uma questão de inteligência. Nós podemos alterar esse contexto atual e dizer que o Congresso aceitaria promover essas mudanças”, alegou. “Para isso, é preciso um governante com capacidade de dialogar. O Congresso é obediente às aspirações da população”, acrescentou.
O senador destacou que é preciso também diminuir o número de partidos. Ele, que passou por cinco legendas, critica a forma como elas lidam com o “exercício da democracia”. “Mudei de siglas para não barganhá-las. Até hoje não encontrei, tanto que hoje estou num movimento (Podemos)”, ressaltou. “A necessidade da reforma política é essencial, da redução de partidos representados”. completou.
Por isso, defende a cláusula de barreiras. “Reduziríamos para seis ou sete partidos representados. Teríamos uma economia de tempo no rádio e na tevê, além, claro, de economia nos recursos públicos”, alegou. Há mais de 43 anos na política, ele declarou: “eu conheci esse monstro nas suas entranhas, por isso eu tenho autoridade de combater de fato”.
Estatais
De acordo com o senador, há, atualmente, 504 mil servidores nas empresas estatais, mesmo com planos de demissão. Ele defende que a sociedade clama por um estado menor, inclusive nestas companhias. “Existe aquela frase: menos estado e mais sociedade. Ela é uma frase que é a aspiração nacional. O estado se agigantou. Nós temos que reduzir o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Buscar modernidade e simplificação”, declarou Álvaro Dias.
O senador ressaltou, porém, que não está “ávido” para demitir servidores, mas “acomodá-los” para corresponder às demandas sociais. “Hoje os serviços são ineficazes. É preciso uma arrumação do quadro”, apontou.
Das 146 empresas estatais, 38% foram criadas durante o governo do Partido do Trabalhadores (PT), de acordo com ele. “Quase sempre como cabide de empregos. São desnecessárias. Várias pessoas nem sabem que existem, mas existem e custam caro”, declarou.
Privatizações
Antes de leiloá-las, Álvaro Dias disse que é preciso que as estatais passem por um programa de revalorização. “É preciso valorizá-las para depois de colocá-las em leilão”, alegou.
Ele disse que não pretende, porém, vender a Petrobras, Caixa e Banco do Brasil. A primeira, segundo o senador, é invejável de reputação internacional e que é preciso retirá-la dos “assaltantes” do passado. “É uma grande empresa”, declarou. “Podemos leiloar a competição no entorno da Petrobras, como as subsidiárias, a exploração e a distribuição. Agora, o controle tem que ser estatal, mas não pode ser com essa política de preços atual, de lucro a qualquer custo”, defendeu. Álvaro Dias defendeu que é preciso que as empresas estatais precisam exercer “em sua plenitude a sua função social”.
Sobre a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, o senador defendeu que elas continuem sendo estatais para o consumidor não ficar refém do sistema financeiro privado.
Reformas
O senador declarou que a reforma tributária é essencial e que será capaz de promover crescimento do país. Ele elogiou a proposta do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) de estabelecer o Imposto de Valor Agregado (IVA) no sistema tributário. “É necessário um modelo progressivo, que tributa menos o consumo e mais a renda. Esse é o sonho de um modelo que vai proporcionar que a roda da economia gire com mais força”, disse.
Sobre a reforma previdenciária, ele declarou que é essencial para a arrumação das contas públicas. Ele disse que o governo atual vai deixar uma “herança maldita” porque não fez as reformas estruturais. De acordo com o senador, a emenda constitucional que limita as despesas (teto dos gastos) terá que ser revista, porque o próximo presidente não terá condições de cumprir. “40% de tudo que se produz no Brasil circula nos cofres públicos. Desses, 65% desaparecem em folha de pessoal e Previdência”, destacou. “Mas não há como fazer a reforma da previdência sem medidas preliminares, de transparência, de balanço, mostrar onde está o buraco”, disse.
Seminário
Para ajudar a população a esclarecer as principais pautas dos presidenciáveis, o Correio promoveu, nesta quarta-feira (6/6), sabatina com 11 postulantes ao Palácio do Planalto. O público pode conferir a programação e acompanhar as entrevistas ao vivo no site do evento Correio Entrevista — Pré-candidatos 2018, que tem patrocínio do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco).
Álvaro Dias iniciou sua carreira como vereador de Londrina (PR) pelo MDB em 1969. Ele passou por diversos partidos, como o PV, PDT, MDB e PSDB. Ele defende a renovação da política e ressaltou que sempre teve divergências ideológicas com as siglas. “Eu conheci esse monstro nas suas entranhas, por isso eu tenho autoridade de combater de fato”, disse.
O senador defende a privatização de algumas empresas estatais, com exceção das companhias do setor financeiro e da Petrobras. Também critica o grande número de servidores e pastas do Estado, propondo a diminuição do número de senadores e deputados, além de ministérios e secretarias. Também já se demonstrou favorável ao porte de armas.
Artur Hugen, com Hamilton Ferrari e Ingrid Soares - Especial para o Correio/Fotos CB/D.A Press
19 de Novembro, 2024 às 23:56