O mundo caminha para uma possível ampliação do papel da Ásia nas relações internacionais. E, para entender as novas dinâmicas na ordem mundial, é importante que o Brasil aumente o conhecimento sobre o continente asiático e sua principal protagonista, a China.
Essa é a conclusão dos especialistas convidados a falar nesta segunda-feira (11), na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), em audiência pública com o tema "O protagonismo chinês e a instabilidade no Mar da China".
Até mesmo o resultado das eleições presidenciais no Brasil tem relação direta com o preço das commodities, fortemente influenciado pela China, destacou Oliver Stuenkel, doutor em ciência política pela Universidade de Duisburg-Essen (Alemanha) e professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Commodities são matérias-primas ou produtos com pequeno grau de industrialização negociados no mercado internacional.
— Quando o preço das commodities é alto, o governo se reelege com facilidade. Quando o preço cai, governos tendem a perder a eleição. E quem hoje determina o preço das commodites, obviamente, é a China — explicou Stuenkel.
Para o professor, também não há como se pensar em superar as barreiras regionais, que ainda existem na América do Sul, sem que a China seja levada em consideração.
Na opinião dele, o país asiático pode ocupar ainda o espaço deixado pelos Estados Unidos, que sob a liderança do governo Trump tem tomado uma atitude isolacionista com o rompimento de tratados internacionais e o crescente nacionalismo, também marcado pela imprevisibilidade.
Além da abertura comercial, os chineses avançam nas questões geopolíticas, com a chegada ao mar do sul da China e um possível cenário de conflitos pelo controle da região. De um lado, o país aposta na criação de ilhas e construção de bases militares. Do outro, estão os interesses do governo norte-americano, que tenta reduzir a influência chinesa por meio de alianças com os vizinhos asiáticos.
— O grande objetivo nesse caso é estabelecer mecanismos que possam reduzir a tensão em momentos de complicação. Estabelecer linhas diretas de comunicação para evitar esse tipo de conflito que teria um impacto brutal sobre a economia global — avaliou Oliver Stuenkel.
O especialista recomendou ao Brasil acompanhar essa situação de perto e fortalecer as embaixadas para o recolhimento de informações estratégicas.
Depois de consolidar sua relação comercial com as Américas e a União Europeia, a China agora avança para o Oriente Médio e a África, observou Alexandre Ratsuo Uehara, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de relações internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco (FRB).
O professor ressaltou que, na Ásia, região com maior desenvolvimento econômico mundial atualmente, a renda per capita é muito baixa e a tendência é que o padrão de consumo se eleve. Para ele, o crescimento da China é sustentável no médio e longo prazos porque o país tem percebido e combatido as próprias fraquezas.
Antes conhecida por produtos considerados “descartáveis”, hoje a China fornece itens de valor agregado com o desenvolvimento dos seus recursos humanos. Uehara lembrou que o país investe no sistema de ensino superior e em tecnologia nas universidades.
— Apesar de ter saído dos dois dígitos e estar hoje em 7% [de crescimento médio anual], a China aparece entre as cinco primeiras parceiras em importação e exportação, se olharmos as principais economias do mundo. Ela está no mundo inteiro, dona de marcas multinacionais que fazem parte do nosso dia a dia — disse.
Por isso, o professor considera importante o Brasil incluir a relação com a China entre as prioridades da política externa.
— Para o século 21, a minha proposta é que nós temos que pensar o mundo a partir dessa perspectiva — afirmou.
Artur Hugen, com Agência Senado/Foto: Roque Sá/AS
19 de Novembro, 2024 às 23:56