Foi modesto o efeito da cláusula de desempenho sobre o número de partidos representados na Câmara. Hoje, 25 siglas têm deputados federais e atuam de maneira quase descontrolada. A partir de 2019, haverá 21 partidos com acesso ao Fundo Partidário e ao Fundo Eleitoral–e com direito de “funcionamento parlamentar” (ter alguma estrutura de Liderança e direito de participar de comissões de trabalho).
Na eleição de 2018, a cláusula é de no mínimo 1,5% dos votos para deputado federal em todo o país com 1% dos votos em, pelo menos, 9 unidades da Federação. Também cumprem o dispositivo as siglas que elegerem 9 deputados federais distribuídos em 1 mínimo de 9 unidades da Federação. Até 2030, a cada disputa, esses requisitos vão aumentar. Leia aqui a regra.
O Poder360 fez uma meticulosa análise dos resultados de domingo. Para saber como foram feitos os cálculos, clique neste PDF com os votos de cada legenda nas 27 unidades da Federação. A seguir, o resumo da aplicação da cláusula:
O PC do B foi uma das legendas que ficou perto da marca, mas caiu por não ter atingido bom desempenho em ao menos 1/3 das unidades administrativas. Mesmo com 9 deputados eleitos, não conseguiu elegê-los em 9 Estados e foi barrada pela cláusula.
A lei assegura aos deputados eleitos por siglas que não atingiram a cláusula a mudança para outro partido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão.
O PT e o PSL foram os partidos que elegeram as maiores bancadas para a legislatura que se inicia em 2019.
Em 2022, a cláusula de desempenho sobe para 2% dos votos em todo o país.
Fim das Coligações
Na próxima eleição para o Congresso não serão mais permitidas as coligações em eleições proporcionais (deputados). Ou seja, cada partido terá de disputar sozinho, apenas com seus candidatos, as vagas em Assembleias Legislativas (nos Estados), Câmara Distrital (em Brasília) e Câmara dos Deputados. A cláusula de desempenho também sobe para 2% dos votos em todo o país. Em 2023, se forem mantidas essas regras, haverá só cerca de 10 a 15 siglas representadas no Congresso.
A história da Cláusula
O Congresso criou a cláusula nos anos 1990. Mas o STF a derrubou em 2006. Deputados e senadores novamente aprovaram a regra em 2017, por meio de emenda constitucional. Saiba como será a implementação:
Não fosse o Supremo Tribunal Federal ter se desconectado da realidade em dezembro de 2006, quando derrubou a 1ª cláusula de desempenho, a política brasileira já seria outra hoje.
O Congresso perseverou. Aprovou a regra novamente. Assim como a anterior, entrará em vigor por completo apenas em uma década. É assim numa democracia: os avanços têm de ser incrementais, sob pena de nada ser aprovado nem adotado.
Como a medida atual foi criada por meio de emenda constitucional, é mais difícil de o STF derrubar o dispositivo.
Haverá profilaxia e mais democracia com o passar dos anos.
Por azar do Brasil, os efeitos da medida entrarão em vigor no início de 2019, quando também ocorrerá uma grande alteração no poder formal do país. Pode ser que a nova configuração política brasileira volte a pressionar por uma reforma política imediata e que mude tudo novamente. Se isso ocorrer, será 1 grande atraso.
Persistir com a regra da cláusula de desempenho até 2019 permitirá que surja uma política melhor no Congresso.
Artur Hugen, com Poder 360º/Foto: Sergio LimaPoder 360º
19 de Novembro, 2024 às 23:56