O senador Roberto Requião (MDB-PR) afirmou nesta terça-feira (23) em Plenário que a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República representa uma "tríplice aliança" entre forças autoritárias, expoentes do neoliberalismo e as massas frustradas com a corrupção e a crise econômica.
Para o senador, Bolsonaro galvanizou a frustração e o descontentamento de amplos setores da sociedade, mas criou um movimento fadado ao fracasso.
Para Requião, um eventual governo de Bolsonaro será marcado pela contradição de seus apoiadores, com interesses inconciliáveis. O senador vê uma "aliança inédita" entre a setores expressivos classe média, trabalhadores e lideranças nas Forças Armadas com o "liberalismo mercantilista".
— Vemos uma inusitada tríplice aliança reunindo expoentes do autoritarismo, alguns deles muito próximos do que poderíamos classificar como fascismo, os ultraliberais do mercado, desde oportunistas, tipo Paulo Guedes, até economistas do PSDB, e o povaréu revoltado, de cujo descontentamento fazem-se as massas do capitão — afirmou Requião.
Para ele, as contradições inviabilização um eventual governo Bolsonaro.
— Qual é o elo de um general Augusto Heleno com o guru econômico do capitão, que pretende privatizar e entregar tudo, desmantelando o Estado nacional pedra por pedra? Que Estado sobrará, senhores militares, para sustentar os objetivos nacionais permanentes previstos na Constituição? Ou isto já não importa mais? Que ponto de contato pode existir entre os que clamam por emprego, salário, segurança, saúde, educação, dignidade e respeito e um programa econômico que não reserva espaço para estas demandas e que, pelo contrário, prega arrocho fiscal, contenção radical de gastos e suspensão dos investimentos públicos? — continuou o senador.
Para Requião, o descontentamento e o desencanto da população foram abduzidos pelos setores neoliberais. Mas isso não tem como dar certo.
— Como essas massas vão reagir à privatização da Petrobras, do sistema energético e dos recursos hídricos, do Banco do Brasil, da Caixa, do BNDS? Quando a venda de todos os bens da viúva não resultar em nada para a geração de empregos, para a saúde, para a educação, para a redução da violência?
Requião lembrou que, em 2011, no início do atual mandato, apontou em seu primeiro discurso as contradições do governo Dilma Rousseff, então no começo. Na ocasião, o senador alertou para o risco do autoritarismo e da perda de direitos trabalhistas e previdenciários. O senador identificava ações destinadas a garantir o domínio do mercado sobre os interesses do país. Para ele, estava sendo chocado o "ovo da serpente".
Ainda para o senador, muitos constroem equivocadamente paralelos entre os bolsonaristas e os movimentos fascistas europeus das décadas de 20, 30 e 40.
— O nazismo, o fascismo, o franquismo, o salazarismo, os quislings, da Noruega, são fortemente nacionalistas, anti-imperialistas e defendem com toda radicalidade o Estado nacional, as empresas nacionais, o capital nacional, os trabalhadores nacionais, o mercado nacional. Se abstrairmos os aspectos autoritários, que podem aproximar o candidato do PSL dos movimentos que citei, pouco resta que os identifique ou avizinhe-os. Assim, querer associar as propostas de Horace Greeley Hjalmar Schacht [economista alemão] com as de Paulo Guedes, por exemplo, além da impropriedade de se comparar o economista do milagre alemão com o especulador, medíocre e limitado, é não conhecer economia e muito menos história.
Artur Hugen, com Agência Senado/Foto: Jefferson Rudy/AS
19 de Novembro, 2024 às 23:56