O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) já tem a disposição ferramentas que permitem identificar quem envia as famosas Fake News, “mentiras”, via WhatsApp. Os representantes da platraforma relataram encontrar “dificuldades” para aplicar a metodologia de outras redes sociais, como mecanismos de checagem de fatos no Facebook e no Google, além de possibilidades de veiculação de direito de resposta aos mesmos usuários alcançado pelas mensagens originais consideradas falsas.
Combate a Fake News no Whatsapp
A ONG Safernet, uma das participantes do conselho consultivo do TSE, apresentou documento à parte com propostas ao WhatsApp. Entre elas:
Redução da possibilidade de encaminhamento de mensagens para até 5 destinatários (como adotado na Índia);
Limitação da possibilidade de criação de grupos e de participação neles por um mesmo usuário, o que abre espaço para abusos de sistemas automatizados.
A organização também defendeu que o WhatsApp adote sistemas de verificação de conteúdos e de indicação daquelas mensagens atestadas como falsas por agências de checagem, estabelecendo limitadores para seu compartilhamento em massa.
Por fim, o documento de recomendações chama a empresa a atuar em conjunto com o TSE para evitar que seja um instrumento de massificação de notícias falsas e interferência eleitoral.
Um estudo sobre o debate político nas principais mídias sociais dos EUA realizado desde 2015 pela antropóloga norte-americana Susan Mazur-Stommen oferece algumas indicações de como lidar com o ambiente contaminado por perfis falsos, robôs, trolls e fake news. O principal conselho: ignore perfis e publicações agressivas.
Susan iniciou seu estudo em meados de 2015, pouco antes de Donald Trump anunciar oficialmente sua campanha para se tornar o candidato republicano na corrida presidencial de 2016. Por meio de atuação ativa nas redes e análise das interações, a pesquisadora se colocou no que chama de “front” da guerra de informação.
Em abril de 2015 multiplicou suas interações no Twitter de cerca de 5.000 mensais para cerca de 500 mil. Em outubro de 2016, véspera das eleições, elevou esse patamar em 10 vezes e se manteve assim desde esse momento.
A análise ativa das interações permitiu identificar uma movimentação atípica nas redes durante a campanha eleitoral. Tornou-se claro para a pesquisadora que havia uma ação de propagação em massa de discurso agressivo nas redes que ultrapassava os tradicionais “trolls” na internet –usuários que se dedicam a arruinar discussões e provocar outros usuários. Havia um movimento coordenado de perfis falsos e robôs para desequilibrar a discussão e criar um ambiente falso de opinião pública nas mídias.
Segundo a pesquisadora, o objetivo dessa ação era estimular a divisão na sociedade e distorcer a discussão na esfera pública. A ação era coordenada com influência e usuários de fora dos EUA. “É um método muito barato e efetivo dessa guerra de informação, mas ainda assim custa dinheiro“, explicou Susan, indicando que é necessário haver uma estrutura de financiamento e apoio deliberado por trás dessa organização.
A antropóloga identificou uma queda brusca nessa atuação nos EUA após a eleição que levou Trump à Presidência. Apesar de ainda estar presente na discussão pública entre conservadores e liberais, o volume de interações caiu muito. Segundo ela, ataques como esse acontecem em outros países e o Brasil é um alvo possível de ações organizadas com esse propósito.
O principal meio de combater essa distorção no debate político nas redes, segundo Susan, é intensificar a presença de pessoas e conteúdos reais nas redes e limitar a atuação dos perfis falsos e robôs. Para isso, a antropóloga organizou 5 lições:
1) Esteja presente e ativo
“Se você ceder espaço nas mídias sociais para conservadores e bots eles convencerão mais facilmente os consumidores de notícia de que refletem o verdadeiro sentimento nacional”, explica a pesquisadora.
2) Seja positivo
“A internet criou espaço para qualquer um se sentir à vontade de opinar sobre qualquer assunto. Então você vê esses perfis comentando tudo sobre tudo, para dispersar a energia das pessoas com discussões infrutíferas“. A prática é conhecida em inglês como “sealioning”, em referência ao coro feito pelos leões-marinhos.
A solução: “Não discuta com bots. Simplesmente ignore e não gaste energia com perfis que você não sabe se são reais“.
Segundo a pesquisadora, também não há como combater diretamente o discurso de ódio propagado nas redes. “O único caminho é ignorar, bloquear os perfis e livrar suas timelines deles“, afirma Susan.
3) Cresça nas redes
Segundo a pesquisadora, a relevância nas redes deve ser uma preocupação das pessoas que querem estimular o debate real. Não há como promover informações corretas se o público não for atingido.
Para crescer e ganhar relevância, Susan conta que é mais fácil se o conteúdo publicado for misto –com vídeos, imagens e comentários engraçados entremeados a informações sérias e discussões relevantes.
4) Conheça sua audiência
Para crescer em relevância nas redes, é necessário entender como as plataformas funcionam e como elas são usadas por diferentes grupos.
Uma boa prática, segundo a antropóloga, é segmentar a sua audiência e tentar separar os círculos pessoais dos de atuação mais política. “Não inunde a timeline pessoal com conteúdo político. Crie sub-audiências, por exemplo com grupos no Facebook“.
Outra dica é evitar petições e abaixo-assinados, que têm pouca efetividade prática e afastam as pessoas da discussão.
5) Seu objetivo é encontrar aliados
De acordo com Susan, as pessoas devem estar conscientes de que não vão persuadir ninguém ou convencer de que estão certos ou errados por meio de discussões rasas na internet.
O objetivo deve ser fornecer um fluxo de informações verdadeiras que contribuirá para criar um ambiente de discussão mais são e buscar aliados e companheiros com quem criar um ambiente de discussão verdadeira. As interações devem ser focadas nessas pessoas.
“Sobretudo, seja gentil e não provoque divisão entre os aliados, mesmo que sejam de opiniões contrárias“, diz a antropóloga.
Artur Hugen, com Poder 360º/Foto: TSE/Divulgação
19 de Novembro, 2024 às 23:56