A importância dos povos indígenas para a conservação ambiental e para conter o aquecimento do Planeta foi debatida nesta semana, em nova rodada do Diálogo Talanoa, processo criado no âmbito internacional para estimular a ação climática.
Os resultados serão levados pelo governo brasileiro para a etapa global do Diálogo, que ocorrerá na próxima Conferência do Clima, a COP 24, em dezembro, na Polônia.
A rodada com os povos indígenas se soma a um ciclo de outras edições realizadas anteriormente com segmentos como sociedade civil, empresariado, comunidade científica e governos subnacionais. “Levaremos as nossas histórias para motivar a nossa sociedade e a sociedade de outros países a fazer mais e mais rápido”, explicou o secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Thiago Mendes.
No diálogo com os indígenas, as experiências abordadas incluíram os esforços e os resultados já alcançados pelos povos indígenas em ações para manter a floresta em pé. “Nossas áreas são preservadas porque conseguimos viver em harmonia com a natureza”, sintetizou Alberto Terena, um dos representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) no evento.
Os participantes alertaram que já começaram a sentir os impactos da mudança do clima. Representante do Conselho Indígena de Roraima, Sineia do Vale contou que, na região, os verões ficaram mais secos e os invernos, mais rigorosos. “Hoje, a questão climática afeta diretamente a vida dos povos indígenas”, afirmou. “Esse diálogo é muito importante para que a gente possa trazer nossas histórias”, completou.
A rodada do Diálogo Talanoa com os indígenas incluiu representantes dos povos Arara, Baré, Bororó, Guajajara, Ikpeng, Kayabi, Macuxi, Manchineri, Manoki, Pankará, Rikbaktsa, Tariana, Tembé, Terena, Tuxá, Wajãpi, Wapichana, Xerente e Xokleng. Também participaram representantes do MMA, do Ministério das Relações Exteriores (MRE), da Fundação Nacional do Índio (Funai) e de organizações não-governamentais.
Tradição
O evento seguiu o formato inspirado na tradição ancestral de compartilhamento de histórias dos povos de Fiji, o pequeno país insular que presidiu a última Conferência do Clima, a COP 23, em novembro do ano passado. Foi na COP 23 que o governo de Fiji introduziu o Diálogo Talanoa, palavra da região do Pacífico, que se traduz como um diálogo inclusivo, participativo e transparente.
A ideia é que cada país faça rodada de discussões sobre o assunto em seus próprios territórios até a realização da COP 24, em dezembro próximo, quando ocorrerá a edição global de alto nível do Diálogo Talanoa, com a participação de representantes dos mais de 190 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês).
O secretário de Mudança do Clima e Florestas do MMA destacou a importância da contribuição brasileira para o processo. “Como tivemos vários debates, ficou claro que o Brasil tem experiências muito positivas que podem mostrar e confirmar essa liderança”, avaliou Thiago Mendes.
Saiba mais
Todos os anos, os membros da UNFCCC reúnem-se na Conferência das Partes (COP), também conhecida como Conferência do Clima. Em dezembro deste ano, a 24ª edição da reunião (COP 24) ocorrerá na cidade polonesa de Katowice. Além do Diálogo Talanoa, a COP 24 terá o objetivo de negociar a conclusão do livro de regras para a implementação do Acordo de Paris, um pacto mundial para frear o aquecimento global.
Em vigor desde 2016, esse Acordo representa um esforço mundial para “manter o aumento da temperatura média global bem abaixo dos 2°C acima dos níveis pré-industriais e buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C”. Para isso, cada país apresentou sua meta de corte de emissões, conhecida como Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). A meta brasileira é reduzir 37% das emissões de gases de efeito estufa até 2025, com indicativo de cortar 43% até 2030 – ambos em comparação a 2005.
Artur Hugen, com Lucas Tolentino/ Ascom MMA/Fotos: Paulo de Araujo/MMA/Divulgação
19 de Novembro, 2024 às 23:56