Com as contas no vermelho, o Estado brasileiro perdeu a capacidade de investir. Os números mostram que o país precisaria aplicar, no mínimo, o equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano durante duas décadas consecutivas em construção, melhoria e modernização de portos, estradas, ferrovias e saneamento para colocar a infraestrutura brasileira dentro dos melhores padrões internacionais. Este ano, os investimentos — privados e públicos — no setor vão somar apenas 1,7% do PIB. Em 2019, a estimativa é ainda menor: 1,6%.
O quadro, que a princípio parece desanimador, foi apontado por especialistas que participaram do “Fórum E Agora, Brasil?”, no último 27 de novembro, em São Paulo, como uma oportunidade: acelerar o crescimento econômico passa, necessariamente, por investimentos em infraestrutura. Caberá aos gestores atrair o capital privado para garantir a retomada das grandes obras e gerar empregos, dizem.
O evento, promovido pelos jornais O Globo e “Valor Econômico”, foi realizado em parceria com a M&T Expo Bauma Network, feira de máquinas e equipamentos.
Dados apresentados pelo consultor Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B, mostraram que o estoque de capital do setor, que era equivalente a 60% do PIB no início da década de 1980, caiu a 36% do conjunto de bens e serviços produzidos no país no final do ano passado.
Isso significa que o Brasil não está investindo na modernização de sua infraestrutura nem cuidando da que já existe. Para reverter esse cenário, dizem especialistas, o Estado terá que assumir um novo papel: o de planejar e articular investimentos privados.
— O desafio de modernizar a infraestrutura do país é enorme. Ela já tem entre 30 e 40 anos e há um desgaste natural. Antes, o Estado planejava e executava, mas agora não tem mais recursos e precisa mudar o modelo—disse Frischtak.
Agências independentes
Diante da crise fiscal, Fernando Paes, da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), defendeu a continuidade dos projetos do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e a renovação antecipada de algumas concessões de ferrovias, que trará nova leva de investimentos para o segmento.
Murillo Barbosa, diretor presidente da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), destacou que, após a liberação da entrada de capital privado na área de portos, cerca de R$ 23 bilhões em investimentos foram realizados, o que fez com que as unidades privadas passassem a responder por 66% da movimentação de cargas nos portos do país. Ae a regulação do setor passar por um enxugamento, afirmou, novos investimentos virão.
Melhorar a infraestrutura do país também depende da segurança jurídica e da independência das agências reguladoras, avaliaram os representantes do setor presentes no evento. Para o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Jorge Bastos, é preciso ter planejamento de Estado para os projetos de infraestrutura, e não de governos. Esse papel de articular grandes obras pode ser ocupado pela estatal, na avaliação de Bastos, ainda que a empresa não tenha posto em prática o seu objetivo inicial, o trem-bala.
—A EPL concebeu o Plano Nacional de Logística com metas para serem atingidas até 2025 e soluções capazes de reduzir o custo das obras —afirmou Bastos.
José Carlos Martins, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), defendeu uma mudança no modelo de contratação de construtoras pelo governo federal para evitar uma centralização nas grandes empresas, que foram bastante afetadas pela operação Lava-Jato.
— O novo governo está decidido a fazer mudanças estruturais. E mudanças estruturais ligadas à infraestrutura são de suma importância. A infraestrutura será a locomotiva do crescimento— destacou Martins.
O seminário foi mediado pelos jornalistas Renato Andrade, coordenador de economia da sucursal do GLOBO em São Paulo, e Daniel Rittner, repórter especial da sucursal de Brasília do jornal “Valor Econômico”.
Artur Hugen, com Revista Ferroviária/Foto: Divulgação
19 de Novembro, 2024 às 23:56