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A janela de oportunidade se abriu a Bolsonaro

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Bolsonaro e Michelle desfilam no Rolls-Royce durante cerimônia de posse presidencial

Nunca um presidente da República no Brasil moderno tomou posse em condições tão favoráveis como Jair Bolsonaro.

Inflação baixa e controlada na faixa dos 4% ao ano. Mais de US$ 350 bilhões de reservas em moeda forte. Mais de 30 anos de regras democráticas sólidas. Lei de Responsabilidade Fiscal, Código de Defesa do Consumidor e Lei de Acesso à Informação são exemplos de três diplomas legais que não existiam durante o regime militar.

Há uma expectativa positiva de 65% dos brasileiros a respeito da administração que começou neste 1º de janeiro de 2019.

Por fim, o Brasil passa por um momento raríssimo: as duas principais reformas necessárias para o país voltar a crescer são consenso quase absoluto no establishment e dentro das cúpulas de todos os principais partidos políticos.

É claro que fazer a reforma da Previdência e a tributária e fiscal não será fácil. Mas quando houve um cenário como esse para um presidente que tomava posse?

Para ficar nos presidentes civis pós-1985, José Sarney assumiu o país machucado pelos 21 anos da ditadura militar. Entregou a nação depois de 5 anos com hiperinflação e em moratória internacional da sua dívida externa.

Fernando Collor assumiu em 1990 e as reservas internacionais eram suficientes para pagar poucos meses de importação. O país estava quebrado.

Fernando Henrique Cardoso fez o Plano Real decolar ao assumir em 1995, mas a inflação ainda era alta. Havia desconfiança. Telefones? Só havia linhas à venda via empresas estatais falidas e obsoletas.

Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e Dilma Rousseff, em 2011, colocaram ênfase no social –o que representou grande avanço das classes menos abonadas e deu impulso ao mercado interno. Mas erraram a mão ao não entender como deveria ser uma economia como a brasileira no século 21. O país ficou encapsulado em ideias passadistas de “campeões nacionais” e outras bobagens enroscadas em uma dobra do tempo pré-queda do Muro de Berlim.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, fala em reduzir a carga tributária de 34% para 24% do PIB em 10 anos. A equipe econômica reúne o maior número de liberais que o Brasil teve num início de governo.

No Congresso, embora exista muito estranhamento sobre como será a negociação de apoio para o Planalto, há cerca de metade de deputados e senadores que estão chegando agora. Não é impossível que, “no susto”, alguma reforma da Previdência possa vir a ser aprovada em 2019, bem como medidas na área da simplificação (ou até redução) de impostos.

Há um grande possível solavanco já contratado para o final de janeiro. O presidente deve se submeter a uma cirurgia em 28 de janeiro, após retornar de uma viagem a Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial.

Trata-se de operação delicada. Não é provável que o presidente esteja 100% operacional em menos de uma semana. Ocorre que a cirurgia será realizada a 4 dias da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado –em 1º de fevereiro.

Durante o período de convalescença de Bolsonaro ocupará o Planalto o vice-presidente, general Hamilton Mourão. Essa interinidade de Mourão pode ser inócua ou não, a depender de como será o comportamento do vice.

Tudo considerado, agora caberá a Bolsonaro fazer bom uso (ou não) dessa fortuna que se apresentou para ele –além de torcer para que sua cirurgia corra bem e que o período de afastamento seja curto.

MÍDIA, SEGURANÇA E POSSE

Em Brasília, basta colocar terno e gravata, olhar para a frente e fingir-se de “doutor” para conseguir entrar em quase todos os prédios públicos da capital federal. O nível de segurança é rudimentar, para dizer o mínimo.

Neste 1º de janeiro de 2019, o esquema de segurança foi rígido. A decisão foi corretíssima, ainda que possam ter sido registrados resmungos aqui e ali por parte da mídia.

O modelo adotado em eventos como esse em países desenvolvidos é muitas vezes mais rígido e restritivo. Para ser credenciado na Casa Branca, há décadas, qualquer profissional da mídia precisa autorizar por escrito e se submeter ao escrutínio de uma investigação do FBI, que dura às vezes vários meses.

O Brasil não pode correr o risco de ter um presidente ou seus ministros sendo alvos de algum atentado, muito menos no dia da posse. O custo de um incidente dessa natureza seria incomensurável para o país. Os organizadores das cerimônias deste 1º de janeiro de 2019 acertaram.

Artur Hugen, com Poder 360º/Foto: Antonio Cruz/Divulgação