O Ministério do Meio Ambiente (MMA) prepara uma série de medidas para combater os ataques de tubarões no litoral brasileiro. O projeto deverá ser apresentado em Brasília no dia 28 de março e está em sintonia com a prioridade do ministério de promover melhorias na agenda ambiental urbana.
A decisão foi tomada na quinta-feira (14) durante reunião entre o secretário de Ecoturismo do MMA, Gilson Machado Guimarães Neto, o presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), de Pernambuco, coronel Bombeiro Valdy Oliveira, e o engenheiro de pesca Jonas Rodrigues, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
O encontro contou ainda com a presença da diretora Michelle Muniz, da Secretaria de Relação Internacionais, do secretário-adjunto de Ecoturismo, Osvaldo Matos, e o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Estudos apresentados pelo professor Rodrigues mostram que, apesar de ocorrerem com mais frequência em Pernambuco - 65 casos desde 1992 -, incidentes com tubarão são registradas também em outros 11 estados, como São Paulo, com 11 ataques, e Maranhão, com 10, no mesmo período. Segundo Rodrigues, “os ataques acontecem por vários fatores, entre eles a degradação dos ambientes marinhos, que obrigam os tubarões a procurar alimento em águas rasas, e a expansão do número de banhistas”.
Rodrigues adverte, no entanto, que as soluções precisam levar em consideração a importância da preservação dos tubarões. “Há evidências que, apesar dos ataques, várias espécies que ocorrem em nossa costa vêm diminuindo anos após ano”, alerta. Segundo ele, há hoje várias tecnologias disponíveis, que, se integradas, podem ajudar a combater o problema. “Unir inteligência artificial com uso de drones, iscas não letais e capacitação de equipes, poderiam ajudar a derrubar as estatísticas”, avalia.
Turismo
Para o pesquisador, o problema não é só as vítimas dos ataques e a própria extinção de espécies, mas também os impactos na atividade turística. Na cidade do Recife, capital de Pernambuco, estimativas mostram que a rede hoteleira perde parte considerável de suas ocupações em meio às repercussões desses casos. “Ali incidentes com tubarão estão em terceiro lugar na classificação de risco aos banhistas, como apontam as placas de sinalização na orla, depois de afogamento por valas ou correntes marinhas”, disse o secretário Gilson Neto.
As medidas serão apresentadas no dia 28 de março em evento previsto para ocorrer em Brasília. O secretario Gilson Neto explica que a estratégia vai integrar ações coordenadas entre técnicos do MMA, ICMBio, CEMIT, governos estaduais, prefeituras, cientistas, e setores interessados. “Entre as medidas, estão previstas a realização de encontros internacionais para compartilhar experiências, criação de uma coordenadoria avançada de monitoramento, licitação para uma embarcação específica para o CEMIT e a aquisição de tecnologias de monitoramento e controle”, adiantou ele.
Segundo o secretário, a urgência é não só com a segurança da população, mas também com a preservação da imagem turística brasileira. “Operadores de turismo estrangeiro monitoram as notícias sobre os ataques na nossa orla”, alerta.
Dados
De acordo com os dados do professor Jonas Rodrigues (UFRPE), de 1992 até agora, foram registrados 86 ataques, sendo que 25 com morte no litoral brasileiro. O Brasil está entre os países que mais tem incidentes, juntamente com os Estados Unidos, Austrália, África do Sul e a Ilha de Reunião (departamento ultramarino francês, no Oceano Índico).
Pernambuco tem 184 quilômetros de praia, sendo que em 33 deles há riscos de incidentes com tubarão. Os trechos de risco são considerados os mais bem sinalizados do mundo, segundo avaliação de especialistas internacionais, presentes nos workshopping promovidos no Brasil. A ocorrência de ataques de tubarão em Fernando de Noronha (PE) também tem preocupado as autoridades. De 2015 para cá, já ocorreram três.
Artur Hugen, com Luiz da Motta/Ascom/MMA/FotoICMBio/Divulgação
19 de Novembro, 2024 às 23:56