A reforma da Previdência deveria ser preocupação de todos os brasileiros. Mas restringe-se, fora de Brasília, quase que só a empresários e investidores dos mercados financeiro e de capitais. Eles têm clareza do que o deficit nas aposentadorias significa para as contas públicas e, por consequência, para o dinheiro próprio e dos clientes.
Essas pessoas querem saber três coisas: 1) se a reforma vai ser aprovada, 2) se sim, quando e 3) quais vão ser as regras aceitas pelo Congresso. As questões se entrelaçam. Quanto mais demorar a tramitação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição), menor a chance de ela passar, ou, se passar, de manter grande parte da proposta original. Há, por ora, razões para otimismo vigilante e crítico de que seja aprovada, se não até junho, como quer o governo, até outubro.
O tempo de tramitação é central. Em outubro, faltarão apenas 12 meses para as eleições de 5.700 prefeitos e 65.000 vereadores em 2020. Fica cada vez mais difícil para os políticos darem seus votos a favor de projetos considerados controversos, como o da reforma da Previdência. O tempo corre a favor dos congressistas, valorizando cada vez mais seu apoio, e contra o governo, que precisará de mais esforço para obter votos.
É totalmente justificada, portanto, a pressa em aprovar a PEC. O capital político do presidente costuma cair, com menor ou maior intensidade, após o início do mandato. Quando se colhem resultados de mudanças políticas e econômicas, volta a subir.
Há sinais inquietantes, embora não conclusivos, em pesquisas de opinião recentes. A da CNT/MDA, realizada em fevereiro, trouxe taxa de ótimo e bom para o governo inferior ao que tinham Dilma, Lula e FHC ao estrear no Planalto. Na da XP/Ipespe, realizada mensalmente, já se vê queda nas expectativas em relação ao governo desde o início do ano.
A popularidade é importante, mas não definitiva. Quem vota na reforma não são eleitores, são deputados e senadores. A principal meta deles é se reeleger ou conquistar outro cargo em 2022. Para a maioria dos congressistas, estar perto do governo é bom negócio, tanto em termos de imagem quanto na obtenção de apoio a seus projetos. O fato de reclamarem, como estão fazendo, quer dizer que estão empenhados em manter uma boa relação com o Planalto, não que pretendam desistir dela.
É bom lembrar que todos os presidentes que conquistaram seus mandatos na urna desde 1995 foram depois reeleitos. Dilma só despencou em popularidade depois de mergulhar o Brasil na pior recessão da história. Os congressistas têm boas razões para acreditar que a economia estará melhor daqui a 3 anos e que Bolsonaro será uma boa companhia.
Certamente essa tendência não é suficiente. O governo precisa fazer sua parte nas negociações políticas no Congresso, o que significa atender em parte ao que os deputados e senadores querem, seja no sentido de modificações na PEC, seja no atendimento a outras demandas.
O governo diz que quer acabar com a troca de liberação de verbas e de nomeações por apoio político. O fato é de que a liberação de verbas vai continuar, assim como as nomeações. A arte está em fazer os políticos se sentirem atendidos e, ao mesmo tempo, mostrar à sociedade que as coisas mudaram.
Outra preocupação é com o estilo de Bolsonaro na relação dele com a sociedade, especialmente por meio de redes sociais. É bom se acostumar com isso. A atitude do presidente solidifica o apoio entre seus apoiadores mais antigos, que o levaram a ser 1 candidato competitivo. São pessoas que ele não quer perder de jeito nenhum. Por outro lado, em geral torce o nariz para o que ele escreve quem já não gosta dele.
Também ficam chateadas as pessoas que apoiam o presidente por pragmatismo e expectativa de reformas econômicas, mas não têm apreço por sua pauta de costumes. Elas não vão abandoná-lo por enquanto. Daqui a 1 mês, terão 1 pouco mais clareza quanto ao resultado dessa confiança depositada. Será possível saber se o governo conseguiu assentar o apoio esperado para aprovar a Previdência ainda no 1º semestre do ano, ou, na pior das hipóteses, até meados do segundo semestre.
Artur Hugen, com Paulo Silva Pinto do Poder 360/Foto: Sérgio Lima/Poder 360
19 de Novembro, 2024 às 23:56