Infelizmente, esses fatores continuam a operar neste ano: estamos contratando um repique do ano passado -um crescimento medíocre, e o preço do barril permanece acima de US$ 70 o barril, próximo aos valores de 12 meses atrás, antevéspera da greve.
Qual a saída? No médio prazo, o mercado de frete necessita se ajustar, reduzindo a sobreoferta. Controle de preços, tabelas e outras intervenções levam na realidade a aprofundar o desequilíbrio: os caminhoneiros menos competitivos adiam a saída do mercado; e os donos de carga verticalizam suas frotas e procuram alternativas (ferrovias, cabotagem, hidrovias).
Esse processo já está acontecendo, e o mercado para os autônomos tende a encolher, agravando a situação particularmente desse segmento.
As medidas do governo pouco fazem para suavizar o ajuste do mercado, ainda que melhorar a qualidade das estradas mais perigosas, ou prover áreas de descanso (desde que seguras), ou ainda desburocratizar esse mercado sejam ações bem-vindas.
No longo prazo, o desafio é ampliar os investimentos em transportes e melhorar sua alocação e eficiência.
Nossa matriz de transportes é distorcida, com uma participação excessiva de rodovias no transporte de cargas (entre 63% e 71%, dependendo do critério adotado), muito acima de países de grande extensão territorial, a exemplo dos EUA (38%).
Inversamente, as ferrovias, as hidrovias e as dutovias no país ainda têm uma participação de segunda ordem. Melhorar a qualidade da nossa malha de transportes, resolver os gargalos e reduzir os custos logísticos (que consomem perto de 12% do PIB, ante 8% a 9% em países continentais) irá demandar um esforço da ordem de 2% do PIB em investimentos por cerca de duas décadas, algo como três vezes o que vimos investindo nos últimos 15 anos.
Nessa perpectiva, há dois conjuntos de imperativos
1) reduzir a insegurança jurídica, melhorar o ambiente regulatório e ampliar as concessões para incentivar o investimento privado; e
2) reformar o Estado e reestruturar seus gastos para voltar a abrir espaço para investimentos públicos que permanecem imprescindíveis.
*Cláudio Frischtak é presidente da consultoria Inter.B
Artur Hugen, com Revista Ferroviária/Foto: Reprodução
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/04/acoes-do-...
19 de Novembro, 2024 às 23:56