Os modelos aplicados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que patrocina os principais estudos sobre o meio ambiente, possuem enormes lacunas e fragilidades no seu rigor científico e servem mais a interesses geopolíticos e econômicos.
Este foi o ponto de vista apresentado pelo meteorologista Luiz Carlos Molion, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), durante audiência conjunta das comissões de Meio Ambiente (CMA) e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, nesta terça-feira (28).
— Os modelos de clima aplicados pelo IPCC são muito rudimentares. E quando se rodam esses modelos, utilizam cenários de gás carbônico [CO2] que são fictícios. Esses cenários não conseguiram sequer prever a forte seca que assolou o Nordeste brasileiro nos anos de 2015 e 2016. Como alguém pode então levá-los a sério quando projetam cenários globais para as próximas décadas e até séculos?
O fato é que o IPCC erra em tudo, especialmente por desconsiderar a relevância das nuvens para o controle da temperatura. As nuvens são o grande controlador da entrada de radiação solar, então é impossível os modelos do IPCC acertarem — frisou.
Molion apresentou dados demonstrando que entre 1920 e 1940 a temperatura média da Terra aumentou mais de 4° centígrados, num período em que a concentração de CO2 era inferior a 300 partes por milhão. Já após a 2ª Guerra Mundial, quando continentes inteiros como a Europa, a América do Norte e outras partes do mundo intensificaram seus processos de industrialização, emitindo muito mais gás carbônico durante décadas, a temperatura média caiu. O meteorologista fez questão de ressaltar que até hoje a temperatura média global é inferior à verificada na década de 1930.
— Até hoje, na série americana, o ano mais quente da história foi 1934. Dos dez anos mais quentes, quatro se deram durante aquela década. Faço parte da vertente de pesquisa científica que não nega que existem períodos de aquecimento. A diferença fundamental entre o IPCC e nós é que eles dizem que essas alterações são provocadas pela atividade humana. Enquanto nós apresentamos evidências físicas de que a variabilidade é natural. O homem não tem nada a ver com a ocorrência dessas alterações — deixou claro.
O professor, que também atua junto às universidades de West Michigan (EUA) e Évora (Portugal), garante que o recente período de aquecimento global, verificado a partir da década de 1990, está ligado à cobertura das nuvens. Justamente o fator que não seria considerado pelo IPCC.
— A cobertura de nuvem é um fenômeno essencial no controle da temperatura do planeta. Se está entrando muito sol pela janela, eu fecho a cortina. Pesquisas do projeto internacional de climatologia de nuvens por satélite [apresentadas por Molion durante a audiência pública] mostram que a cobertura de nuvens caiu de 70% em 1987 para 64%. Os dados obtidos por satélite deixam evidente que à medida que cai a cobertura das nuvens, a temperatura aumenta — citou.
Molion também apresentou pesquisas correlacionando diretamente as temperaturas verificadas no Oceano Pacífico, influenciadas entre outros fatores por ocorrências do fenômeno El Niño, com o impacto na temperatura global. Isso porque os períodos de El Niño trazem uma forte onda de calor para o Pacífico, que corresponde a um terço da superfície do planeta.
— Pesquisas de institutos europeus [apresentadas por Molion] com séries históricas extensas mostram que, quando o Pacífico se aqueceu, houve uma tendência de a temperatura global crescer. Quando o Pacífico esfria, a temperatura diminui. Então aparentemente o Pacífico é o grande comandante do clima global. Ele sozinho é 35% da superfície terrestre. Se somarmos todos os continentes, a soma chega a 29% — detalhou.
Molion ainda ironizou a pactuação em torno do Protocolo de Kyoto, de 1997, que propôs na época uma redução de 5% das emissões humanas (o equivalente a 300 milhões de toneladas), quando os estudos do próprio IPCC sobre o efeito estufa apresentavam uma flexibilidade de impacto sobre o clima que girava em torno de 80 bilhões de toneladas, segundo ele. O cientista também criticou as metas de redução de emissões do Acordo de Paris, vigente desde 2015.
— Eles querem um fundo de U$ 100 bilhões por ano para reduzir as emissões. Já mostramos aqui que reduzir as emissões não adianta nada, porque o CO2 não controla o clima global. Reduzir as emissões vai fazer com que a geração de energia seja menor. E 80% da matriz elétrica no mundo hoje ainda depende de petróleo, carvão mineral e gás natural. Mais de 160 países no mundo estarão condenados a permanecer na miséria e na pobreza com a redução das emissões — descreveu.
Molion ainda lembrou que recentemente a Alemanha e o Japão voltaram a investir fortemente em termelétricas à base de carvão, enquanto pressionam nações subdesenvolvidas a não fazerem o mesmo. E enumerou inúmeras catástrofes climáticas históricas do passado, ocorridas tanto em climas quentes quanto frios, a seu ver sem qualquer correlação com a emissão humana.
— Os modelos do IPCC apontavam em 1989 que o clima médio global em 2015 seria 0,8° mais alto. As observações mostram que o aumento foi de 0,2°. É a prova cabal de que eles se baseiam em modelos que tendem a superaquecer os oceanos, produzindo com isso temperaturas mais quentes — criticou.
A reunião foi conduzida pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC), que criticou o fato de o Brasil introduzir políticas públicas e legislações restritivas e se comprometer com metas internacionais tendo como base os documentos do IPCC. Para ele, esse modelo de gestão da questão ambiental tem impedido regiões inteiras do país de estabelecerem um desenvolvimento eficiente, e de ofertar uma qualidade de vida digna para a maior parte de suas populações.
Para Molion, isso indica que o Brasil ainda vive uma condição semi-colonial, submetendo seus interesses e soberania à governança global.
Agência Senado/Foto: Geraldo Magela/AS
19 de Novembro, 2024 às 23:56