(Brasília-DF, 23/02/2022) O ministro Edson Fachin assumiu nessa terça-feira,22, à noite, o comando do Tribunal Superior Eleitoral(TSE), assim como o ministro Alexandre de Moraes, assumiu a vice-presidência. Ele destacou a importância do bom exemplo, disposição para o diálogo e defendeu o compromisso inarredável com a verdade dos fatos.
“Cumpre, assim, agregar a sociedade pelo bom exemplo. A tolerância, a disposição para o diálogo e o compromisso. inarredável com a verdade dos fatos afloram no povo quando, primeiramente, constituem faróis para o labor diário das autoridades de todas as esferas. Aos líderes e às instituições, portanto, toca repelir a cegueira moral e incentivar a elevação do espírito cívico e as condutas de boa-fé que abrem portas ao necessário comportamento respeitoso e dialógico.”, disse em um trecho de sua fala.
Saudações
O procurador-geral Eleitoral, Augusto Aras, ao saudar o presidente empossado do TSE, recapitulou a trajetória da Corte Eleitoral, que, este mês, junto com a Justiça Eleitoral, completa 90 anos de existência. Ele ressaltou o papel desempenhado por essa Justiça especializada na manutenção da democracia, e exaltou o quadro de magistrados e servidores da JE que se dedicam a essa missão.
“São juízes qualificados para tempos que apresentam novos desafios”, disse, ao citar o combate à desinformação e as recentes tentativas de coerção antidemocrática das instituições. “A independência do juízo que não se submete aos caprichos das paixões políticas é condição essencial para uma disputa justa e legítima”, afirmou Aras.
O procurador-geral Eleitoral também destacou o trabalho que o Ministério Público Eleitoral (MPE) vem realizando ao lado do TSE na preparação das Eleições Gerais de 2022. Aras destacou a interlocução que tem sido feita com os partidos, que, segundo ele, “têm a missão de apresentar ao eleitor mais que opções de candidatos, mas propostas e projetos para o país”, inclusive por meio de uma maior participação no processo eleitoral, em prol da transparência dos pleitos.
De acordo com ele, serão mobilizados quase cinco mil servidores para a fiscalização do pleito de outubro, 4,5 mil promotores e 140 procuradores da República.
OAB
O presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti, registrou os cumprimentos de mais de 1,2 milhão de juristas do Brasil, e salientou a confiança na nova gestão da Corte Eleitoral, sempre compromissada com o sistema de direitos e garantias. “O TSE é uma fortaleza, e a defesa dessa fortaleza democrática sempre contará com a OAB”, enfatizou.
Simonetti ressaltou que tudo indica que, nas eleições de outubro próximo, a Justiça Eleitoral seguirá como protagonista de muitos debates e questionamentos, e garantiu que a OAB estará sempre ao lado do Estado de Direito. “E isto significa estar ao lado deste Tribunal na defesa do Estado de Direito, reagindo a qualquer ataque que busque enfraquecer as eleições e a democracia brasileira, pois a democracia deve triunfar sempre”, completou Simonetti.
Veja a íntegra da fala de Fachin:
Brasília, 22 de fevereiro de 2022.
Agradeço, genuinamente honrado, as ilustres presenças nesta sessão.
Assumo a honrosa posição de Presidente do Tribunal Superior Eleitoral. São mais de trinta anos de Estado de Direito democrático à luz da Constituição de 1988; governos e governantes sucederam e foram sucedidos; alçamos a maturidade democrática nessas três décadas com enorme ganho institucional.
Nada obstante, assumo essa função atento, de imediato, aos árduos desafios da hora que vivemos. Nela, a esperança nos move em direção à cooperação pacífica entre as instituições; cumpre-nos, assim, preservar o patamar civilizatório a que acedemos e evitar desgastes institucionais. Esse patamar a que acedemos é, dentro do marco constitucional, um direito inalienável do povo. Dele retroceder é violar a Constituição.
Cumpre, assim, agregar a sociedade pelo bom exemplo. A tolerância, a disposição para o diálogo e o compromisso. inarredável com a verdade dos fatos afloram no povo quando, primeiramente, constituem faróis para o labor diário das autoridades de todas as esferas. Aos líderes e às instituições, portanto, toca repelir a cegueira moral e incentivar a elevação do espírito cívico e as condutas de boa-fé que abrem portas ao necessário comportamento respeitoso e dialógico.
Há muitos desafios a serem enfrentados. Menciono alguns deles.
O primeiro desafio é proteger e prestigiar a verdade sobre a integridade das eleições brasileiras.
O Tribunal Superior Eleitoral tem indisputado histórico de excelência de organização e realização de eleições seguras, corpo técnico multitudinário e capacitado, legitimidade constitucional em suas atribuições, e desenvolve Programa de Enfrentamento à Desinformação estruturado e em pleno funcionamento.
Este Tribunal comunga os seus afazeres com tribunais regionais, juízas e juízes eleitorais, servidores, funcionários e colaboradores que atuam na Justiça Eleitoral que completa 90 anos de existência e 25 anos de urnas eletrônicas, com eleições íntegras e confiáveis.
O segundo desafio é o de fortificar as próprias eleições, as quais, como se sabe, constituem a ferramenta fundamental não apenas a garantir a escolha dos líderes pelo povo soberano, mas ainda para assegurar que as diferenças políticas sejam solvidas em pazpela escolha popular. A democracia é, e sempre foi, inegociável.
A democracia, casa acolhedora do plural, tem espaço suficiente para todas as cosmovisões. Estende liberdades a todas e todos: o conservador democrata, o liberal democrata, o progressista democrata e o centrista democrata, independentemente das diferentes convicções que levam no coração, preservarão, juntos, a prerrogativa constante à correção de rumos, que a rigor corresponde a não desistir de melhorar o país.
A estabilidade democrática, nesse contexto, só é possível à vista de um comprometimento integral, a unir a sociedade e seus inúmeros atores em uma aliança forjada sobre o solo firme da reciprocidade.
O terceiro desafio, e que transcende a Justiça Eleitoral, é o respeito ao escore das urnas; mais do que reconhecer a dignidade do outro, é também proteger o avanço civilizatório.
E é assim que, em nosso país, por meio das seguras urnas eletrônicas, as eleitoras e os eleitores decidem, em conjunto, a pilotagem do futuro e a escolha dos líderes e da orientação geral das políticas públicas.
A transparência das atividades governamentais, a probidade, a responsabilidade dos governos, na gestão pública, o respeito aos direitos sociais e a liberdade de expressão e de imprensa são, não por acaso, componentes fundamentais do exercício da democracia (Carta Democrática Interamericana, art. 4º).
Nos ambientes democráticos, é forte a imbricação existente não apenas entre liberdade de expressão e democracia, mas, também, entre liberdade de imprensa e formação da vontade popular.
Paz e segurança nas eleições em 2022, eis o que almejamos.
Quem é da paz diz não à violência de gênero e de todas as suas formas, não à misoginia, não à homofobia, e clama: sim à dignidade, à liberdade, aos direitos fundamentais, aos deveres essenciais de cada pessoa, da família e da própria sociedade constitucional: livre, justa e solidária.
Quem almeja a paz, portanto, também reconhece o papel da imprensa livre e efetivamente respeitada em todas as suas prerrogativas, na garantia do pluralismo democrático.
Nosso quarto desafio é o combate à perniciosa desconstrução do legado da Justiça Eleitoral. Seremos implacáveis na defesa da história da Justiça Eleitoral. Calar é consentir. Dentro de seu campo de atuação, a Justiça Eleitoral, ao longo de seus 90 anos, tem assegurado, com reconhecida excelência, a higidez de mecânicas elementares para o processamento pacífico dos dissensos coletivos, na escolha de representantes do povo e, assim, para a manutenção da estabilidade político-social.
Há que se respeitar, desse modo, a dimensão de sua grandeza histórica, extraída do seu longevo papel de agente da paz e garante fiel do poder e da voz das cidadãs e dos cidadãos, dos tempos das urnas de lona à era do voto eletrônico, referendado por especialistas independentes e por diversas instituições públicas como um paradigma de integridade para todo o mundo. Há que se levar a história a sério. A Justiça Eleitoral é, para todos os efeitos, ao lado das instituições constitucionais, incansável fiadora da democracia e limite às alternativas opressoras do passado.
Dentro desse contexto, as investidas maliciosas contra as eleições constituem, em si, ataques indiretos à própria democracia, tendo em consideração que o circuito desinformativo impulsiona o extremismo.
O Brasil merece mais. A Justiça Eleitoral brada por respeito. E alerta: não se renderá.
Cumprir a Constituição da República se impõe a todos: o Brasil é uma “sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias”.
Diante desses desafios, há, por isso mesmo, urgências inadiáveis.
É urgente e imprescindível: a união de atores comprometidos com o sistema democrático, a fim de preservar, mediante suas vozes, o protagonismo da verdade no sistema informativo.
Impende preservar a união e a concórdia, recusando, a todo o custo e por todos os meios legítimos, as armadilhas da pirataria informativa.
A desinformação não tem a ver, apenas e tão somente, com a distorção sistemática da verdade, isto é, com a normalização da mentira. A desinformação vai além e diz também com o uso de robôs e contas falsas, com disparos em massa, enfim, com todas as formas de comportamentos inautênticos no mundo digital. Diz, mais, com a insistência calculada em dúvidas fictícias, bem ainda com as enchentes narrativas produzidas com o fim de saturar o mercado de ideias, elevando os custos de acesso a informações adequadas.
Por isso mesmo, parece-nos igualmente urgente e imprescindível cessar o esgarçamento dos laços sociais. Uma sociedade quista em comunhão não pode –simplesmente não pode! –flertar com o rompimento. Atenta às suas responsabilidades constitucionais e democráticas, a Justiça Eleitoral, como instituição responsável pelo processamento pacífico das diferenças políticas, tem um papel específico a desempenhar: cabe-lhe acudir a verdade escrutinada e, com ela, promover a tolerância.
A tolerância, isto é, o exercício de reconhecer a dignidade alheia é, como se sabe, um elemento indispensável para a harmonia social. Invoca, nesse sentido, a ideia de que pessoas são iguais em dignidade e que, por isso, não se podem anular.
Estamos sempre abertos ao diálogo e aos aprimoramentos. As portas estão abertas desde há muito à sociedade civil, aos partidos políticos, às entidades de classe, às Universidades, à ciência, às pesquisadoras e aos pesquisadores e acadêmicos, às lideranças empresariais e de trabalhadores, às pessoas e às instituições em geral, ao Ministério Público, à advocacia, às defensorias públicas, à Polícia Federal, às Forças Armadas, e a todas e a todos que tenham fé na democracia. Refiro-me agora, em síntese, às principais diretrizes.
Anuncio, nesta oportunidade, uma síntese daquilo que a gestão irá primar: pela transparência e pela defesa da integridade do processo eleitoral; pela primazia do diálogo nas relações interinstitucionais, inclusive perante a comunidade eleitoral internacional; pela formação de alianças estratégicas, com entidades genuinamente interessadas na perpetuidade do patrimônio democrático; pela prevalência do clima de paz e tolerância na esfera pública; pela prevenção do conflito e de todas as formas de violência política; pelo respeito à dignidade e às potencialidades das autoridades técnicas e profissionais do honroso corpo de servidores da Justiça Eleitoral; pelo aperfeiçoamento constante dos serviços prestados, mediante a revisão de processos de auditoria e mapeamento de vulnerabilidades; pela inclusão e pela diversidade, em ordem a universalizar o acesso à democracia; pelo combate a formas violentas de expressão política; e pela eficiente administração dos recursos humanos, tecnológicos, patrimoniais e financeiros do Tribunal Superior Eleitoral.
A partir de hoje, entra em curso o Programa de Fortalecimento Institucional da Justiça Eleitoral. Estamos instituindo a Comissão de Combate ao Racismo; igualmente, amanhã instalaremos o Núcleo de Inclusão e Diversidade. Teremos a honra de continuar com o programa “TSE Mulheres”.
Também manteremos e apoiaremos os setores, os grupos e as comissões de acessibilidade e de saúde laboral. Manteremos e ampliaremos a importante Comissão de Transparência Eleitoral e do imprescindível Observatório de Transparência, ambos com a missão de observar e dialogar com a Justiça Eleitoral. Especial preocupação teremos com o direito fundamental de dados pessoais e sua proteção, sopesado sempre com o dever de transparência inerente a todo e qualquer serviço público. A transparência como primazia será nossa diretriz. Desenvolveremos intenso programa de governança e de avaliação de riscos.Iremos nos integrar de pronto ao esforço da comunidade eleitoral internacional pela defesa da democracia e em articulação com instituições e entidades encarregadas dos processos eleitorais no contexto global.
Durante o mês de março nos reuniremos com cada uma das presidências de todos os partidos políticos para dialogar construtivamente sobre ideias e práticas de cooperação institucional, inclusive no combate à desinformação. Impende aqui realçar a relevância e o papel central destinado aos partidos políticos. Para eleger seus representantes, os titulares dos direitos políticos materializam, nos termos do artigo 14 da Constituição, a soberania popular que “será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual. para todos”. É a manifestação da garantia do voto igual a livre expressão da vontade dos eleitores, como indica o Pacto de São José da Costa Rica.
Essa postura colaborativa também já tem as portas abertas pela Presidência do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, e aqui reitero meu agradecimento aos Presidentes Senador Rodrigo Pacheco e Deputado Arthur Lira, para ações coordenadas de combate à desinformação eleitoral.
No tocante aos recursos financeiros necessários ao desenvolvimento das atividades eleitorais, após planejamento meticuloso elaborado pelos tribunais eleitorais, contamos com o apoio da área econômica do Governo e do Congresso Nacional, que aprovou em lei a dotação adequada aos gastos para a realização das eleições gerais e demais atividades da Justiça Eleitoral.
Destaco também a continuidade da implantação da Identificação Civil Nacional, projeto que contribuirá para a modernização do Estado Brasileiro. A Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE –que tanto contribuiu para o processo de informatização das eleições –terá todo o apoio de minha gestão, notadamente nas ações de defesa cibernética da Justiça Eleitoral. Como sabem, vivemos em um mundo novo, em que o espaço das redes digitais precisa ser defendido dos contra-ataques de criminosos que tentam vilipendiar as instituições. As pautas ora anunciadas serão levadas em um contexto de presença unida e de operar sinérgico, a congregar os vinte e sete tribunais regionais e mais de 22.588 (vinte e dois mil quinhentos e oitenta e oito) colaboradoras e colaboradores, assim como as magistradas e os magistrados eleitorais que servem à sociedade, bem assim o Ministério Púbico Eleitoral, os dedicados mesários –essas testemunhas oculares da lisura, da confiabilidade e da autenticidade dos pleitos movidos pela vocação de servir ao País.
A eleição não é um feito do TSE. É uma realização de muitos parceiros. Dos servidores da Justiça Eleitoral, dos mesários, aos barqueiros, motoristas, de quem prepara o lanche e de quem prepara os locais de votação, dos integrantes das juntas eleitorais, aos administradores de prédios ou locais de votação, passando pelo papel importante e imprescindível das Forças Armadas, especialmente nos trabalhos cívicos e patrióticos de levar as urnas nas mais distantes regiões e rincões do país, fazendo ali chegar, com zelo, segurança e eficiência, todo o conjunto de instrumentos para operar as urnas, e ainda das forças policiais que auxiliam sobremaneira a segurança das eleições. Somos muitos (mais de 22 mil todos os dias, cotidianamente, e mais de dois milhões no dia das eleições) e chegamos a todas as seções eleitorais, incluindo as comunidades indígenas e ribeirinhas.
Eis aí, dentre tantos zelosos e abnegados, os embaixadores da democracia brasileira.
Por fim, não poderia terminar a presente solenidade sem antes dirigir algumas palavras aos Excelentíssimos Ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, a quem, respectivamente, sucedo e precedo. Ao amigo Presidente Barroso, meu sincero reconhecimento pela patriótica dedicação, pelo zelo, pela empatia e pela sinergia com que se houve nos exemplares afazeres na chefia máxima da Justiça Eleitoral.
Dirigiu o Presidente Barroso eleições no ambiente da pandemia; soube colher a orientação científica adequada, em situação. inaudita, sem precedentes, e o fez com cautela, serenidade e eficiência. Merece, sem favor algum, nosso reconhecimento e nosso aplauso.
Ao Ministro Alexandre de Moraes, expresso aqui minha honra e alegria em compartilhar esse momento histórico. A experiência e o conhecimento de Vossa Excelência pavimentam o percurso a ser percorrido.
Concluo.
Aos meus colegas de Tribunal, ministros oriundos do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, e aos ministros juristas: juntos iremos preparar, organizar e realizar as eleições, administrando, julgando, regulamentando e dando as diretrizes consultivas necessárias. Prestamos aqui um serviço público e prestamos contas à sociedade brasileira.
Conclamo todas e todos, a partir da ciência das responsabilidades que temos,a encontrarmos o extrato líquido das metas comuns e que os comportamentos públicos sejam testemunha da autenticidade e da firmeza de nossos compromissos democráticos.
Por derradeiro, seguiremos com o estrito respeito às orientações das autoridades sanitárias e científicas, utilizando as ferramentas disponíveis e propícias ao maior cuidado com a saúde e o ambiente de trabalho.
Sigamos em paz. O importante é ter em mente a vasta extensão das agendas que nos unem. Queremos uma vida próspera, rica em harmonia, plena de trocas francas, generosas, colaborativas, dentro do Estado de Direito democrático. O coração do presente ainda sabe à esperança. O futuro esse sonho não deve nos negar.
Muito obrigado pela vossa atenção.
Ministro Edson Fachin
(da redação com informações de redes sociais. Edição: Genésio Araújo Jr)
19 de Novembro, 2024 às 23:56