(Brasília-DF, 07/11/2022) A Política Real esteve alguns dias da semana passada conferindo os eventos dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro(PL) que defendem uma intervenção miliar, agora definida como intervenção federal, bancada pelo militares. Os eventos em Brasília sem dão nas cercanias e na vida que dá acesso ao Quartel Geral do Exército, conhecido como “Forte Apache”. As pessoas que frequentam o local são notadamente formadas por gente da classe média alta e alta de Brasília, assim como, especialmente na segunda fase, neste final de semana, por servidores comissionados do Governo Federal.
Não se vê pessoas das cidades satélites mais humildes. Mas em outras cidades do Brasil se percebe a presença de estratos variados da sociedade, o que revela mais do que pensam alguns, de que se tratam dos “doidinhos” radicais, tão-somente.
Publicamos a seguir, o depoimento do jornalista Yan Boechat, que é documentarista e repórter da TV Bandeirantes. Ele destaca que os movimentos não deixam de ser golpistas e ilegais, mas destaca como se encontra o chamado “tecido” sociais.
“Passei os últimos dias com os eleitores de Bolsonaro que foram às ruas e às estradas pedir um golpe de Estado. Ignorados pela grande imprensa, os protestos dão uma mostra do que será esse país nos próximos anos. Nesse fio conto o que vi, o que ouvi e o que achei disso tudo
O movimento golpista que parou estradas e tomou conta da porta dos quartéis em diferentes cidades brasileiras pode ter apoio de empresários, financiamento de políticos e ser insuflado pelo gabinete do ódio de dentro do Planalto. Mas é, antes de tudo, orgânico e espontâneo.
Além disso, é numeroso e capilarizado. Em SP, milhares e milhares foram para a porta do Comando Militar do Sudeste no dia 2. Muitos estavam lá antes, e muitos mais seguem acampados até agora. Não se trata de meia dúzia de bolsonaristas radicalizados. O volume me impressionou
Me impressionou também a diversidade social das pessoas que estavam ali. Não se tratava apenas da classe média branca do Centro Expandido, havia gente da periferia, gente pobre e gente rica; católicos, protestantes. Havia povo ali.
Desde 2014, quando os primeiros movimentos pró-ruptura constitucional ganharam as ruas, os defensores de um golpe militar sempre estiveram à margem. Naquele momento e nos anos que se seguiram, o pessoal da intervenção era visto como os "malucos" do protesto, os radicais.
Essa semana ficou claro que esses grupos deixaram de ser minoritários para se tornarem protagonistas entre os bolsonaristas. Foi como se tivessem cruzado uma fronteira. Agora as pessoas estão indo para as ruas pedir um golpe militar, uma ditadura, sem subterfúgios.
E quem foi às ruas acompanhar de perto o que está acontecendo percebe com clareza que não se trata de um grupo minoritário de radicais, das tias do zap. Há volume, há organicidade e há diversidade em quem acredita que os militares devem assumir o poder para salvar o país
Essa parcela da população está absolutamente apartada da realidade. Ignora a imprensa como a imprensa os ignora. Estão todos à espera de um salvador que restituirá a verdade num mundo de mentiras.
Eu fiquei muito impressionado e muito assustado com o que vi. Acompanho os movimentos dessa direita radical desde novembro de 2014, quando do dia para noite trios elétricos dos meninos do MBL, do Vem Pra Rua chegaram na Paulista com José Serra pedindo o impeachment de Dilma.
Não faço a menor idéia de como restabelecer o diálogo com essa imensa parcela da população que se radicalizou ao longo dessa última década. Mas tenho por certo que ignorá-los ou reduzir esse movimento ao "gado", aos "minions", aos "genocidas" não há de resolver muita coisa.
Sempre lembrando da @consuelodieguez e seu ótimo livro, nessa semana um ovo diferente começou a ser chocado. Se algo não for feito, dele há de sair um bicho bem mais feio, bem mais violento e bem mais intolerante. E nunca é bom esquecer: 2026 já está ali na esquina.”, finalizou.
(da redação com informações de redes sociais. Edição: Genésio Araújo Jr.)