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O Inverno chegou e com ele o Pinhão

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O pinhão “Macaco”, assim denominado porque não debulha. Geralmente só se desprende da pinha por ação direta de pássaros, animais ou do próprio homem

Durante cinco meses, de final de março a meados de agosto, a região sul do Brasil colhe o pinhão, semente da araucária angustifólia, espécie vegetal popularmente conhecida como Pinheiro-brasileiro ou Pinheiro-do-paraná.

A maioria dos pinhões da araucária amadurece no finalzinho do verão, com exceção daquele conhecido por “25 de Março”, ou Kayuvá, colhido já antes do período da Páscoa.

Curiosamente, no final da colheita, na transição dos meses de julho e agosto, alguns pinheiros ainda guardam pinhas intactas. Trata-se do pinhão “Macaco”, assim denominado porque não debulha. Geralmente só se desprende da pinha por ação direta de pássaros, animais ou do próprio homem.

O Ibama protege a araucária, visando tirá-la da lista das espécies ameaçadas de extinção e uma das medidas foi decretar uma data limite para o início da colheita: 1º de abril, com o intuito de evitar a retirada antecipada das pinhas, com os pinhões ainda verdes.

O Pinheiro-brasileiro, árvore (conífera), ocorre num limite territorial com altitudes que variam de 400 metros (campanha gaúcha) a mais de 1.000 metros (serras e planaltos), entre o Paralelo 29º 30’ (RS) e 20º Sul (Minas Gerais).

Há 200 milhões de anos, a araucária disseminava-se por todas as regiões da Terra e hoje é encontrada apenas em poucos países do Hemisfério Sul, dentre eles o Brasil, Chile e a Austrália.

Curiosidades

São conhecidos dois tipos de pinheiros, no Brasil: o “pinheiro branco” e “pinheiro vermelho”. Diferenciação antigamente muito usada na atividade exploratória dos vastos “pinhais”.

Da araucária se aproveita, essencialmente, a semente (alimento) a madeira (aproveitamento industrial variado), a resina (para fabricação de acetona, vernizes entre outras utilidades químicas) e o nó de pinho (para o fogo e artesanato).

Estudos feitos no CAV-Udesc, na década de 1980, envolviam a “conserva de pinhão” e a transformação do produto em farinha. E, mais recentemente, o professor Massashi, do Núcleo de Tecnologia de Alimentos desta universidade, desenvolveu projeto da conservação do pinhão em casca, por meio da refrigeração.

O pinhão também já foi transformado em malte, para fabricação de cerveja, sendo ainda possível o processamento da semente para a fabricação de aguardente.

Estudos apontam para uma maior incidência, em uma Floresta de Araucária, de pinheiro “macho”, sendo que a designação “macho” ou “fêmea” é popular e não científica.

A araucária é, geralmente, dióica (diferenciação entre árvore produtora e reprodutora), mas podem ocorrer casos de uma árvore desenvolver os dois sistemas, isto é, uma araucária “macho-e-fêmea”. Assim, de tempos em tempos a árvore muda as suas características de reprodução da espécie.

Dentre as variedades de pinhão, destacam-se a Kayuvá (“25 de Março”) e a Macaco. A pinha têm em média 135 pinhões.

Valor nutritivo

O pinhão é um alimento composto de mais ou menos 50% de gordura insaturada, o que facilita a digestão se comparado com as gorduras saturadas – como a da carne. Ele é composto de manganês, zinco, ferro, a vitamina E, beta caroteno e fibras, além do licopeno e a antoxantina.

A nutricionista Vanessa Cristina Assunção arrisca-se a dizer que o pinhão ajuda a prevenir alguns tipos de câncer. Ela acredita ainda na capacidade de controlar os níveis de colesterol, e a equilibrar as taxas de glicose no sangue, o que seria muito bom para os diabéticos. “O pinhão também tem efeito antioxidante vasodilatador, anticoagulante. Combate a fadiga e estimula a libido”, diz Vanessa.

Nos seus diferentes modos de preparo – sapecado na grimpa, assado na chapa do fogão, cozido em água e sal – é alimento apreciado e festejado. Serve de ingrediente principal em variados pratos típicos como a paçoca e o entrevero.

Responsável por muitos anos pela compra da semente da araucária para a Festa do Pinhão, o servidor público aposentado João Batista Lima (o Cabeça), convive com a colheita do pinhão desde criança, no interior do município serrano de Campo Belo do Sul. “Até hoje tem gente que soca o pinhão no pilão, para o preparo da paçoca”, conta.

Cabeça revela ainda uma dica para a conservação do produto por pelo menos mais três meses após a retirada da pinha: espalhar o pinhão sobre uma superfície, misturado com sal grosso. “No sítio era muito usado um canto da cozinha de chão para esse tipo de armazenamento”, lembra.

  • Texto: Iran Rosa de Moraes, publicado, originalmente no Guia Serras Catarinense
  • Fotos - Anselmo Nascimento – Postado por RepórterArturHugenBrasil