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O valioso mel branco de Cambará do Sul

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A Familia Castilhos é pioneira na produção de Mel, em Cambará do Sul

A exemplo do mel Kiawe do Havaí e do mel branco coletado na região montanhosa de Tigray, no norte da Etiópia – um dos mais caros do mundo –, o município de Cambará do Sul ganhou fama com um tipo raro de alimento, de tonalidade clara e pelo sabor suave. O Apiário Cambará é um dos negócios familiares que operam na produção e comercialização da iguaria, uma variedade monofloral elaborada a partir do pólen da planta nativa carne-de-vaca, conhecida pela cor avermelhada da madeira. Na última safra, o empreendimento coletou cerca de 3 mil quilos do produto, oferecido em embalagens de 210 gramas e um quilo, com preços de R$ 25 e R$ 50, respectivamente.

Por ser concentrada no mês de janeiro, a produção do mel branco é fortemente dependente do clima, diz a apicultora Liane Castilhos. “No verão do ano passado, ela (a árvore) só floresceu. Deu aquele calorão, não choveu, ela queimou. Havia umas três safras que a gente não tinha esse mel na quantidade e tonalidade que tivemos neste ano. Depois que ele cristaliza, fica branquinho”, explica Liane, que assumiu a gestão do apiário em 2018 e desde então passou a investir em análises polínicas para identificar as fontes de néctar predominantes no alimento. A família se dedica às abelhas há quatro décadas e em 2007 montou uma agroindústria para o envase do mel. 

Na última safra, Liane trabalhou com 300 colmeias de abelhas, espalhadas por diferentes pontos da região. A primavera marca o início do manejo dos enxames. “Nós estamos com poucas caixas, é o que eu consigo cuidar. Minha meta é não aumentar, porque não quero quantidade, e sim qualidade”, afirma. Na safra que se aproxima, o apiário planeja ampliar também a produção do chamado mel de melato de bracatinga – diferentemente do produto floral, esse tipo é feito pelas abelhas com o líquido excretado pelas cochonilhas, que se alimentam da seiva da bracatinga. Atualmente, 15 produtores do Rio Grande do Sul detêm a Denominação de Origem Planalto Sul Brasileiro para a variedade, concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) em 2021. 

Para a apicultora, o mercado brasileiro hoje passa por uma mudança, impulsionada pelo maior interesse do consumidor por méis diferenciados e por investimentos dos apiários na apresentação do produto. O uso na culinária especializada também vem ajudando a dar mais visibilidade para o item, segundo ela. “As pessoas estão começando a entender que o mel é um alimento, e não um remédio, que ele pode estar no café da manhã. Chefs do Brasil inteiro estão usando mel, isso está vindo com força”, avalia Liane.

Para aproveitar o fluxo de turistas que todos os anos passam pela região dos cânions, o Apiário Cambará aposta no projeto Passeio do Mel, no qual recebe pequenos grupos de visitantes. Na propriedade, eles podem conhecer as colmeias e as etapas de produção do alimento, encerrando o programa com um piquenique com alimentos à base de mel.“Temos uma loja aqui em Cambará. Como é uma cidade turística, a gente consegue escoar toda a nossa produção diretamente para o cliente final, sem entrepostos, e está dando certo assim”, diz Liana. A apicultora conta que solicitou ao Ministério da Agricultura e Pecuária o chamado Selo Arte, certificado de identidade e qualidade para produtos alimentícios elaborados de forma artesanal. “A gente acredita que até o final do ano estará com esse selo e então poderei comercializar o mel branco e o silvestre em todo o Brasil”, afirma.

Migração de colmeias para variar sabores

O eletrotécnico Leonardo de Oliveira, de Santa Maria, começou a se aventurar na apicultura há cerca de seis anos, pensando inicialmente em cultivar um hobby. A ideia de trabalhar com méis monoflorais surgiu ao longo de um curso de empreendedorismo realizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ao final do Programa de Pré-Incubação da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec) da universidade, seu projeto não foi selecionado para a criação de um negócio, mas, com o conhecimento adquirido, ele decidiu investir na apicultura migratória, modalidade em que os produtores transportam as colmeias para diferentes locais de floração.

Apicultura migratoria

Apicultura migratória exige muito tempo e dedicação, mas resultado vale a pena, diz Leonardo Oliveira, que no ano passado vendeu em torno de 200 quilos de mel e para a próxima safra tem como meta chegar à comercialização de meia tonelada.

“Na minha região, eu só consigo produzir o mel de eucalipto ou mel silvestre. Para os monoflorais, de pau-ferro, angico e uva-do-Japão, tem de migrar para outras regiões”, explica Oliveira. O apicultor começou o empreendimento com apenas três caixas de abelhas, instaladas no sítio de um amigo, e foi ampliando o número de colmeias à medida que testava o desempenho dos insetos em diferentes pontos. Na época, ainda informalmente, ele oferecia o mel produzido em seu círculo de amigos, divulgando-o pelo Facebook. Depois, firmou parceria com outros apiários e entrepostos para a extração e o envasamento do alimento, hoje comercializado sob a marca Mel do Sul em vidros de 450 gramas por meio de um site próprio. “Comecei a refinar os produtos em 2020-2021, quando estourou a pandemia”, lembra Oliveira.

O apicultor, que hoje trabalha com 17 colmeias, produziu no ano passado em torno de 200 quilos de mel. Mas a meta é aumentar esse volume para meia tonelada na próxima safra, a partir de parcerias com outros produtores. “A apicultura migratória demanda muito tempo. Como tenho outra atividade, não consigo mais fazer isso”, diz Oliveira. Os clientes da Mel do Sul, segundo ele, são geralmente pessoas em busca de alimentação mais saudável. Mais do que uma fonte de renda extra, ele afirma que a aventura do mel lhe trouxe grande satisfação pessoal. “Para mim, é muito gratificante trabalhar com abelha”, destaca.

Fonte: Correio do Povo - Michel Vieira fotografia / divulgação / CP  - Postado por Jornalista Artur Hugen

Foto abaixo:   Rafael kiCzamans - Divulgação CP