A Expointer, que chega à 40ª edição, consolidou-se como um espaço de discussão das principais tecnologias que auxiliam a agropecuária gaúcha e brasileira. No que se refere à biotecnologia, o ano de 2003 foi marcado pelo anúncio da liberação de transgenia. No caso das máquinas, a cada ano a feira apresenta as novidades mais recentes em tecnologia embarcada.
Neste cenário, o Rio Grande do Sul viu a produção de grãos saltar de 11,5 milhões para 36,4 milhões nos últimos 40 anos. As tecnologias do presente e do futuro e o desafio de sua adoção em um momento de queda nos preços dos principais produtos agrícolas, foram o tema da primeira edição do ciclo de debates Correio do Povo Rural desta Expointer, ocorrido nessa terça-feira, na Casa do Correio do Povo no Parque Assis Brasil.
O presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, destacou a necessidade de que, com o achatamento dos preços das commodities, o produtor faça a gestão dos custos, “com mais agronomia e menos pacote”. Ao mesmo tempo, ressaltou que, até por questões ambientais, o agricultor terá de usar menos insumos. E afirmou, ainda, que o setor da biotecnologia possui uma dívida com o campo. “A biotecnologia praticamente ficou na resistência ao glifosato e alguma coisa a mais. Ela pode evoluir muito”, destacou Pires.
Os debatedores também discutiram a adoção de tecnologias nas lavouras em um momento de queda no preço dos grãos e instabilidade econômica e política. O diretor técnico da Emater, Lino Moura, disse temer um possível “refluxo”, em função “não tanto da crise, mas do preço das commodities”. “Pode haver um encolhimento no uso da tecnologia, redução de fertilização, redução da qualidade da semente”, enumerou. “Essa redução pode acabar refletindo na renda do produtor e na produção do Estado”, completou Moura.
Por outro lado, o agrônomo destacou que alguns segmentos da agropecuária não alcançaram o mesmo nível de tecnologia que a produção de grãos, como é o caso da pecuária de corte bovina. Enquanto as lavouras cresceram mais de 200% em produtividade nas últimas quatro décadas, o incremento na pecuária foi de 60%.
O fomento à pecuária de precisão é um dos assuntos que têm sido tratados pelo Senar/RS, conforme informou o chefe da divisão técnica do órgão, João Augusto Telles. “Estamos marchando a passos muito largos para lançarmos um programa de pecuária de precisão, a exemplo do que existe na agricultura”, observou. No entanto, destacou que a adoção de novas tecnologias no campo esbarra muitas vezes na questão da capacitação, já que o nível de escolaridade do produtor muitas vezes é baixo. “O grande problema que estamos sentindo na maioria das propriedades é gestão”, disse. “Essas tecnologias vieram para auxiliar o produtor, então temos que ensinar uma maneira de ele atender à sua demanda”, completou. Telles destacou também que a adoção de tecnologias pelo produtor está diretamente relacionada à renda oriunda da atividade.
O gerente de marketing de produtos da LS Tractor, Astor Kilpp, ressaltou que, na área de máquinas, a adoção de tecnologias cresceu principalmente a partir de 2008, com a implantação do programa Mais Alimentos, do governo federal. “Se o Brasil passou essa crise atual com menos trauma, e está conseguindo superá-la, um dos motivos é este”, salientou, referindo-se não apenas à tecnologia embarcada, mas também às áreas de genética animal e produção de sementes.
Kilpp relatou ter ouvido produtores afirmarem que, se os preços não reagirem e o dólar permanecer no atual patamar, deverão reduzir a área plantada para a próxima safra, o que poderá significar também uma menor adoção de tecnologia nas lavouras para o ciclo 2017/2018.
O ciclo de debates Correio do Povo Rural abordará nesta quarta-feira o impacto das reformas para o campo e, na quinta-feira, as perspectivas para o cenário da pecuária de corte no Rio Grande do Sul.
Artur Hugen, com informações do Correio do Povo/Foto: Alina Souza
19 de Novembro, 2024 às 23:56