PNAD Continua do IBGE informa que existem 1,650 milhão de crianças e adolescentes em trabalho infantil no Brasil; Nordeste e Sul têm altas expressivas no trabalho infantil enquanto Norte recua 12,1%
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(Brasília-DF,19/09/2025) No meio da manhã desta sexta-feira, 19, o IBGE divulgou módulo experimental de Trabalho de Crianças e Adolescente de 5 a 17 anos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.
O país tinha 1,650 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos em situação de trabalho infantil em 2024, o que representa 4,3% da população nessa faixa etária. O resultado aponta 34 mil jovens a mais nessa condição em relação ao ano anterior, quando a proporção foi a menor da série histórica (4,2%). Entre essas crianças e adolescentes, 1,195 milhão realizavam atividades econômicas e 455 mil produziam apenas para próprio consumo.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho infantil é aquele que é perigoso e prejudicial para a saúde e o desenvolvimento mental, físico, social ou moral das crianças e que interfere na sua escolarização. O conceito considera critérios como faixa etária, tipo de atividade desenvolvida, número de horas trabalhadas, frequência à escola, realização de trabalho infantil tido como perigoso e atividades econômicas desenvolvidas em situação de informalidade.
De acordo com o analista da pesquisa, Gustavo Geaquinto, ainda é cedo para afirmar se há uma reversão da tendência de queda no trabalho infantil.
“Essa oscilação positiva de 0,1 ponto percentual, em relação a 2023, pode indicar até uma certa estabilidade. Para entendermos se há uma reversão da tendência de queda ou uma estabilização do indicador, será importante termos o resultado do próximo ano. Ressalta-se, no entanto, que no acumulado do período 2016-2024, foi estimada uma queda importante do contingente de crianças e adolescentes em trabalho infantil”.
A pesquisa mostra um universo maior de 1,957 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos que trabalham em atividades econômicas ou na produção para o próprio consumo. No entanto, nem todas elas são consideradas em trabalho infantil.
"Todas as crianças de 5 a 13 anos que trabalham são necessariamente classificadas na pesquisa como em situação de trabalho infantil. Quanto àquelas de 14 a 17 anos, isso vai depender de alguns fatores, como a frequência escolar, a jornada de trabalho e o tipo de trabalho realizado", explica Gustavo.
REGIÕES
Nordeste e Sul têm altas expressivas no trabalho infantil; Norte recua 12,1%
As regiões Nordeste (547 mil pessoas) e Sul (226 mil pessoas) apresentaram as altas mais acentuadas no número de pessoas de 5 a 17 anos em trabalho infantil em relação a 2023: 7,3% e 13,6%, respectivamente. Já Sudeste e Centro-Oeste tiveram pequenas oscilações, passando de de 478 mil para 475 mil pessoas, e de 148 mil para 153 mil pessoas, respectivamente.
Já o Norte, com 248 mil pessoas em trabalho infantil, foi a única grande região com queda expressiva (-12,1%) nesse contingente entre 2023 e 2024, apesar de ser a grande região com a maior proporção (6,2%) de crianças e adolescentes nessa situação. Nas demais grandes regiões, a proporção de jovens em trabalho infantil foi a seguinte: Nordeste (5,0%), Centro-Oeste (4,9%), Sul (4,4%) e Sudeste (3,3%).
Frente a 2016, todas as grandes regiões apresentaram queda do total de pessoas em situação de trabalho infantil, exceto a Região Centro-Oeste, com uma variação positiva de 7,0%. Nesse período, o Nordeste apresentou a maior retração (27,1%).
Contingente de pessoas em piores formas de trabalho infantil (Lista TIP) é o menor da série
Em 2024, cerca de 560 mil crianças e adolescentes de 5 a 17 anos exerciam piores formas de trabalho infantil, trabalhando em ocupações que fazem parte da Lista TIP. É o menor contingente da série iniciada em 2016, recuando 5,1% em relação a 2023 (590 mil pessoas). Esse número equivale a 37,2% dos 1,503 milhão de crianças e adolescentes que realizavam atividades econômicas. A queda em 2024 ocorre após uma outra ainda mais acentuada, verificada em 2023, quando o total de pessoas na Lista TIP reduziu 22,7% frente a 2022, ano em que havia 763 mil pessoas nessa situação.
“A PNAD Contínua, além de classificar as crianças e adolescente como em situação de trabalho infantil, também identifica se as ocupações por elas exercidas constam da Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil, sendo abrangidas nessa lista ocupações identificadas como aquelas que podem trazer maiores riscos ocupacionais e consequentes repercussões à saúde dessas crianças e adolescentes.”, explica Gustavo.
Entre as crianças e adolescentes na Lista TIP, 74,4% eram do sexo masculino e 67,1% eram de cor preta ou parda. Entre a população de 5 a 17 anos que realizava atividades econômicas, as piores formas de trabalho infantil atingem os mais jovens: 60,8% das crianças e adolescentes de 5 a 13 anos de idade que realizavam tais atividades exerciam ocupações na lista TIP. No grupo de 14 e 15 anos, esse percentual foi de 51,8%. Entre os adolescentes de 16 e 17 anos, 30,8% estavam nessa condição.
De acordo com a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios, Adriana Beringuy, é preciso ressaltar a trajetória de queda de trabalhadores infantis na Lista TIP. “Se a gente olhar desde 2016, podemos observar que a Lista TIP segue uma trajetória de retração. O ponto fora da curva foi 2022. Mas há um percurso de queda”.
Em 2016, havia 919 mil crianças no país exercendo as piores formas de trabalho infantil. Entre 2016 e 2024, houve uma redução acumulada de 39,1% de crianças e adolescentes exercendo ocupações que constavam na Lista TIP.
( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)