Moro propõe mudanças e agilização no processo penal brasileiro, e evita provocações de petistas

Juiz debateu com os parlamentares pontos divergentes da proposta de mudanças do Código de Processo Penal

Publicado em
Sérgio Moro falou aos deputados sobre sua visão de Código de Processo Penal( Foto: Floriano Rios e Marcelo Camargo)

(Brasília-DF, 30/03/2017) Mudanças e agilização na investigação criminal, resguardando os direitos dos acusados, foram defendidas pelo juiz federal Sergio Moro, em debate realizado nesta quinta-feira, 30, na Câmara dos Deputados sobre as propostas do novo Código do Processo Penal brasileiro.

A audiência pública foi realizada pela Comissão Especial que analisa o Projeto de Lei (PL) 8045/10 que trata das mudanças do Código de Processo Penal (CPP). Do debate participou, ainda, o juiz Sílvio Rocha, da 10ª Vara de Justiça Federal de São Paulo.

O atual CPP é de 1941 (Decreto-Lei 3.689/41) e define quem deve fazer a investigação criminal, quem deve denunciar o acusado, quais são os direitos do réu e como esses direitos podem ser exercidos ao longo de todo o processo, além de prevê quais medidas podem ser adotadas contra o acusado, que mecanismos ele pode usar para se defender e os limites dos poderes dos policiais, dos promotores e dos juízes.

Juiz de Garantias

Sergio Moro criticou a criação da figura do chamado juiz de garantias, que atuaria apenas na fase de investigação, antes do oferecimento da denúncia - ou seja, seria o juiz que decidiria sobre as medidas cautelares, como prisão temporária ou indisponibilidade de bens, e a respeito de pedidos de busca e apreensão e quebras de sigilo. Já a sentença seria dada por um segundo juiz, que não participou da fase pré-processual.

Segundo ele, a mudança prevista no projeto não é garantia de imparcialidade e é de difícil aplicação.  “Tenho dúvidas de que separar o juiz de garantias do juiz do processo é algo que se justifique ou que vai apenas trazer prejuízos ao processo”, disse Moro. 

Restrição orçamentária

"Parece-me que quiseram trazer uma construção doutrinária pensando em uma figura, o juiz de instrução, que é uma espécie de super delegado de Polícia e existe em países como a França, mas que não existe no Brasil”, frisou o juiz.

Para ele, essa proposta é de difícil execução em um momento de restrição orçamentária. “Teríamos de ter dois juízes em cada comarca”, enfatizou. Alguns magistrados defendem que o afastamento do juiz da fase de investigação é uma maneira de assegurar a imparcialidade do julgamento.

Condenação de réu

Moro também defendeu que o novo CPP “deve ser claro” em relação à sentença do réu condenado, que segundo ele deve começar a ser cumprida após a condenação por órgão colegiado.

“Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que, após uma condenação pelo Tribunal do júri, já poderia começar a ser cumprida a pena. O cumprimento da sentença após segunda condenação poderia ser colocado na lei”, lembrou.

Outras alterações

Durante o debate, Sergio Moro defendeu várias alterações ao Código do Processo Penal como a proteção e recompensa a pessoas que denunciarem crimes - o chamado whistle blower; a chamada transação penal, que segundo ele praticada nos Estados Unidos, e consiste em um acordo entre Ministério Público e o acusado em que este admite sua participação no crime em troca de redução da pena; o poder de o juiz não aceitar recursos quando considerar que eles são apenas protelatórios; e a limitação da concessão de habeas corpus apenas para casos em que os acusados estão presos.

“Ofensivas” do PT

Durante a audiência, três deputados do PT - Paulo Teixeira (SP), Wady Damous (RJ) e Zé Geraldo (PA), fugindo da temática, questionaram Sérgio Moro sobre a sua conduta na Operação Lava.  

Teixeira indagou citou o vazamento de interceptação telefônica de conversa entre os presidentes Lula e Dilma, antes da votação do processo da abertura do processo de impeachment.

“Vossa excelência quebrou o sigilo telefônico da presidente Dilma e foi repreendido pelo ministro Teori Zavascki [do Supremo Tribunal Federal]. No contexto de um golpe parlamentar, vossa excelência queria derrubar a presidente Dilma?”, indagou Teixeira.

Wady Damous, ao criticar os métodos e decisões de Moro na operação, perguntou:  “Por que vossa excelência pediu desculpas ao Supremo no caso da interceptação da ex-presidente Dilma?”.

Moro não responde

Zé Geraldo entrou pelo mesmo tom e acusou Moro de abuso de autoridade, e teve a palavra cortada pelo presidente da Comissão, Danilo Forte, após adverti-lo por duas vezes a “se restringir ao debate”.

Moro teve 15 minutos para as considerações finais – responder às perguntas feitas pelos deputados. Mas evitou as provocações do PT. “Não me cabe aqui ficar respondendo a parlamentares que fizeram perguntas ofensivas. Peço escusas, mas não vou responder”, concluiu.

(Por Gil Maranhão – Agência Política Real. Edição: Genésio Jr.)

Galeria de Fotos